130 anos depois não estamos para desistir

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Ter, 28/08/2018 - 13:23


O Jornal Nordeste publica-se continuamente há 25 anos, depois de Fernando Subtil, personalidade memorável de Bragança, ter recuperado o título que saiu do prelo pela primeira em 1888, já lá vão 130 anos. Naturalmente, um quarto de século é tempo que merece celebração, especialmente quando a imprensa em geral parece acossada por múltiplas ameaças, que se perfilam desde os alvores da rádio, passam pelo impacto da televisão e, nas últimas décadas, se acentuaram por via das tramas que a informática foi tecendo, para o bem e para os diversos males que afloram a cada minuto no quotidiano, para espanto das gentes. Agosto de 1993 foi o momento do renascer do título, com o refundador, director e proprietário a dizer ao que vinha, retomando a sua actividade de polemista, interventor político, social e cultural. Já deixara então contributos notáveis no jornal diocesano, na Rádio Eclésia, em Angola e no semanário “O Cardo”, que fundou e manteve alguns anos, com impacto na capital de distrito, principalmente, entre os que apreciavam o seu repentismo, a profundidade de análise e a ironia corrosiva, de companha com qualidade literária ímpar, a pedir meças a muitos escrevinhadores, até laureados, deste país pequeno e atreito a vaidades de feira. Mas, a vida carrega sempre o segredo da sua insignificância, mesmo para as figuras geniais. Acautelada a continuidade do Nordeste, num último assomo de coragem e generosidade, o legado foi honrado, adaptando-se o jornal aos tempos e aos públicos, sem perder as referências da defesa da região e da informação séria, sem compromissos espúrios nem encostos de comodidade a poderes reais ou desejáveis, porque as funções de informar, problematizar, questionar, revelar e discutir continuam a ser fundamentais para qualquer órgão social que não se queira sujeitar a ser a voz de um qualquer dono. A propósito dos 25 anos, fomos dar uma vista de olhos pelo “Nordeste” original, do fim séc. XIX. Sem surpresa podem ler-se textos desassombrados sobre a situação que se vivia na região, já então sujeita ao abandono dos poderes centrais e à cupidez das lideranças locais, com propostas de condução de políticas de desenvolvimento, reivindicações de acessibilidades, nomeadamente do caminho de ferro, que só chegaria a Bragança em 1906, de apelos ao investimento em indústrias diversificadas e de exortações ao desenvolvimento agrícola e pecuário, uma riqueza natural da região. Fica a sensação de que pouco ou nada mudou. O comboio, entretanto, veio e foi-se, a indústria está hoje dependente de um sector específico e a criação de gado parece caminhar para a actividade residual, quando já há dezenas de aldeias onde não ficou uma única cabeça de gado. Vale a pena ler os excertos, que publicamos nas páginas centrais, de umas das primeiras edições de 1888. Sente-se verdadeiro calafrio, como se estivéssemos parados no tempo, o que pode ser devastador para a vontade de continuar, ou pelo contrário, permitir a tomada de consciência de que não será o tempo a melhorar a nossa condição, mas sim a vontade, a união e a coragem para resistir mais 130 anos e garantir uma era de prosperidade que as gerações vindouras merecem.