Definitivo ponto final

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Ter, 16/04/2019 - 10:11


Quando respiramos o ar da área metropolitana, que vai ficar muito mais puro, pelo que se diz, depois da redução dos passes sociais e do investimento massivo na mobilidade eléctrica, ficamos a saber que estamos a chegar ao último ponto final do capítulo da história em que a nossa região não foi além de notas de rodapé insignificantes.

Há uma acomodação generalizada ao destino fatídico de grande parte do país, deixado à sua sorte durante séculos. Gerações inteiras secaram até à raiz, porque as sementes foram para longe com os ventos da má sorte, num reino que se quis império, mas não foi além de tolerado pisteiro de riquezas que outros foram acumulando e investindo, para mal dos nossos pecados.

Já no século XVI se estranhava a desmedida Lisboa perante o corpo do país, mas o processo nunca foi invertido, mesmo quando as riquezas se escoaram em monumentais dívidas e nos fomos tornando num protectorado destes e daqueles.

Não se cuidou de presentes, muitos menos de futuros, com honrosas excepções, em situações de aperto, mas sem continuidade, porque logo que corria algum dinheiro, a maralha que tecia os destinos na ronceira capital, apressava-se a gastá-lo à tripa forra, alimentando ilusões de prosperidade para meia dúzia de apaniguados e sua atenta, veneradora e obrigada criadagem, que foi crescendo à custa da miséria generalizada, apesar das potencialidades para produzir valor, desprezadas pela vaidade balofa do novo-riquismo, a pisar o risco da insolvência financeira, situação de que não nos libertámos, como se pode ver pelo registo de bancas rotas que levamos em pouco mais de um século.

Se alguém acreditou que era possível encontrar o caminho da dignidade e construir um país outro, lavrou em puro engano. Afinal, somos mesmo assim, todos os portugueses, de Lisboa ou do resto do país. Todos nos deixamos enredar nas teias que a presunção tece, tolhendo-nos a vontade e a determinação.

É isso que se constata hoje, quando ouvimos os que foram despejados no litoral a defender, apesar das origens que querem renegar, o privilégio constante e descarado dessa cabeça tonta do país, que é Lisboa, repetindo argumentos de má-fé, de que é exemplo maior o que pretende imputar à vítima a responsabilidade pela situação a que chegou: “As autarquias do interior é que não criaram projectos para resolver a questão dos transportes”, dizem alegremente, de sorriso escarninho, a marimbar-se para os avós que, nas aldeias do nordeste, quase já nem conseguem andar e nem sonham sequer com um transporte que lhes dê o direito à mobilidade, “porque não é rentável”. Portanto, estão a dizer “que se lixem”, por linhas travessas.

Destes não se espera solidariedade. Mas piores são os que vivem na região, afinam pelo mesmo discurso e parecem encomendados para promover o ataque cínico aos poderes locais, talvez na mira de prebendas, tachos e tachinhos, para a parentela, que algum dia se fechará definitivamente a porta da região arruinada.

Estamos, portanto, no último parágrafo, mesmo a chegar ao ponto definitivamente final da história triste da nossa terra e das gerações que a deixaram morrer.

 

Teófilo Vaz