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O urro da besta

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Qua, 15/06/2016 - 17:39


Ao contrário de todas as prospectivas que, no fim do século passado, iam anunciando luminosos futuros, cada dia deste novo milénio traz-nos mais angústias e desânimos sobre a condição humana, apesar do generoso Francisco, que se desdobra em apelos e orações.
Olhando em volta, vemos um mundo miserável, pestilento, que parece encaminhar-se para o caos, sem que se descortine nenhuma referência regeneradora.

O cerco 
O modelo de sociedade que se foi construindo desde há mais de 25 séculos, uma reconhecida conquista da humanidade, está a esboroar-se, por descuido e demissão dos que, nas últimas décadas, mais proveito retiraram do labor cívico de múltiplas gerações.
Em nome do comodismo e encostados à presunção de irreversibilidade, que só pode resultar da displicência, temos vindo a conviver com o medo, que queremos esconjurar, mas que não enfrentamos com a razão e a coragem que se impõem.
Apesar de todas as evidências, continuamos a querer convencer-nos que o tempo e o progresso tudo normalizarão. Nova Iorque, Londres, Madrid, Paris, Bruxelas, Istambul, Telavive, Orlando, os massacres em ritmo crescente ameaçam tornar-se rotina, seguidos de vigílias lamentosas, onde somos carpideiras do nosso próprio fim, quando o que se esperava era a força da solidariedade, disposta a esmagar para sempre a besta da ignorância selvática.
Em vez disso irromperam, aqui e ali, do lixo com que continuamos a conviver, títeres que, em vez do combate suscitam a berraria, convencidos que assim afastam o inimigo. Mas isto acontece porque a tibieza é a expressão mais própria para caracterizar as lideranças deste lado da história. Qualquer dia os assassinos virão buscar-nos à cama, para regar com o nosso sangue a seara da ignomínia.

A vergonha
Entretanto, ao mesmo tempo que se nega misericórdia aos cordeiros do oriente, imolados aos milhares, assistimos à festa da boçalidade que têm sido os primeiros dias do europeu de futebol, nessa França que ainda não curou as feridas dos ataques cobardes do ano passado.
Afinal, as democracias continuam, alegremente, a chocar os ovos da serpente que farão proliferar répteis de veneno mortífero.
Devíamos perguntar-nos o que se tem feito com as gerações saídas das escolas do “mundo civilizado”, que objectivamente vemos retratadas nas hordas de trintões, rubicundos e barrigudos, à estalada pelas avenidas da Europa, a propósito de qualquer coisa e de coisa nenhuma. Se tais energúmenos usassem a energia para os combates necessários, talvez não estivéssemos, a tremer de medo.

Choro e ranger de dentes
Há uma proclamação profética que nos reserva esse fim desprezível e que pode cumprir-se, se não tomarmos consciência de que a civilização está por um fio. O futuro pode tornar-se um pesadelo milenar, até que daqui a outros 20 séculos alguém tente recomeçar a obra que parece queremos deixar reduzir a cacos.
As soluções não passam pelas macacadas de um tal Trump, pela hipocrisia inglesa, nem pelo videirismo de Marine Le Pen e de outros herdeiros da sombra do austríaco Adolf. Mas também não resultarão do que se considera hoje politicamente correcto, afinal um demissionismo medricas, que nos deixa afundar, humilhados e ofendidos, no obscurantismo sem retorno previsível.

Por Teófilo Vaz