Os professores só precisam de respeito

PUB.

Ter, 21/11/2017 - 10:26


Tempos houve em que havia professores com estatuto de escravos, naturalmente numa condição diferente da escravatura pura e dura dos serviçais ou dos remadores das galés romanas.
Desempenhavam função fundamental nalgumas famílias da velha Grécia, preparando futuros cidadãos para o exercício das actividades na Polis, onde se atingiram patamares civilizacionais, inspiradores do melhor que se vai realizando hoje, num tempo de inesperadas inquietações e perplexidades.
Também preparavam caminho para voos mais altos, em escolas lideradas por vultos da cultura, da filosofia, da sabedoria. Ainda celebramos a memória da Academia de Platão ou do Liceu, de Aristóteles.
Aí se desenvolveu o modelo da função do professor: um pensador dedicado à observação racionalmente conduzida do mundo e do homem, à visão prospectiva de devir, partilhada com os discípulos, que levariam o testemunho até ao futuro.
Nobre e empolgante tarefa era essa, que os fundadores das modernas democracias quiseram proporcionar a todos, dando corpo à esperança de que a dignidade, a elevação moral, o sentido ético e a inteligência haveriam de ser os esteios da humanidade. Assim se lançaram sistemas educativos, assumindo responsabilidades históricas de quem encarava o poder político como um verdadeiro amor ao próximo.
Mas, quando se esperava que a ignorância, a boçalidade selvática e o imediatismo predador já fossem só dolorosas memórias, eis que se renovam ameaças de não deixar pedra sobre pedra.
O ataque terá sucesso garantido se lograr desferir golpes certeiros sobre os principais defensores, desgastados, trémulos de desgosto e desilusão, exaustos por tanto esforço inglório, os professores, esses mesmo, que têm visto sonhos de dignidade transformar-se em pesadelos que lhes secam até a vontade de levar o barco a porto de abrigo, enquanto os ventos não serenam.
Apesar da percepção quotidiana das turbas distraídas, o que levou algumas vezes os professores para a rua não foram questões de salário, de reivindicação de retroactivos, de progressão «à balda» numa carreira desvirtuada por decisões espúrias de eleitoralismo insano, que contribuíram para o descalabro financeiro do sector educativo e do país em geral.
O que os leva a desfilar pelas avenidas da Lisboa do novo riquismo bacoco, provinciano e ridículo é a falta de respeito por quem tem dado contributos inestimáveis para que o país ainda não tenha mergulhado no caos.
No futuro se verá o resultado, talvez triste, senão trágico da festarola tonta da ridicularização dos professores, iniciada há uma década por um governo liderado por novíssimo tartufo, que há-de ser mote de universal chacota nos próximos séculos.
O prestígio da escola é indissociável da dignificação dos professores, da sua autonomia como promotores do saber, da sua condição de referências para as gerações que acompanham. Fazendo deles burocratas mal pagos, que se limitam a dar legitimidade formal à passagem pelo sistema educativo, não se pode esperar que o país vá além da famosa modorra entediante, que tem alimentado a crónica satírica e nos deixa a todos com um sorriso amarelo.

Teófilo Vaz