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Quintanilha: terra de contrabando e de fé

Ter, 04/11/2008 - 10:09


Não há quem não tenha ou conheça histórias e aventuras de contrabandistas por aquelas bandas. Terra fronteiriça, são muitas as estórias que dão fama a Quintanilha, no concelho de Bragança.

Nos tempos em que as autoridades controlavam a passagem de pessoas e mercadorias entre Portugal e Espanha, poucos eram os que não se aventuravam a contrabandear produtos para tentarem ganhar mais alguns “trocos”. Desde bens alimentares, como pimento e café, a ferramentas e instrumentos agrícolas, era vasta a panóplia de mercadoria vendida ilegalmente, em ambos os lados da fronteira. Utilizando o rio Maçãs, que separa os dois países, como ponto estratégico na travessia, muitos eram os habitantes de Quintanilha que percorriam, nas frias noites de Inverno, montes e vales ibéricos para comprarem e venderem produtos nos dois lados da fronteira. “Trazíamos ovelhas, pimento e escabeche em lata, entre outras coisas, e depois para Espanha levávamos pão, ovos e café. No Inverno, chegávamos a andar com a água gelada do rio pelos ombros”, recordou Belarmino Martins, habitante de Quintanilha.
Uma vez comprada a mercadoria em Espanha, era levada para localidades como Coelhoso, Parada ou Vinhas, no concelho de Macedo de Cavaleiros. “Às vezes, transportávamos cerca de 50 kgs de produtos às costas e chegávamos a andar três horas a pé para a vendermos noutros sítios”, contou o antigo contrabandista, que começou a ajudar o pai neste tipo de “acções” com, apenas, 12 anos.
Devido ao apertado controlo das autoridades fronteiriças, era frequente “largar”o fardo no meio do monte e fugir, para não cair nas garras dos carabineiros. “Andávamos sempre alerta e, ao mínimo sinal, atirávamos com as coisas para algum sítio e, mais tarde, tentávamos reavê-las”, explicou Belarmino Martins.
Sendo uma actividade ilegal, eram frequentes as denúncias por parte de “passadores” ou habitantes às autoridades fronteiriças. “Algumas pessoas acusavam os contrabandistas. Alguns chegaram a ser apanhados e eram muito maltratados”, explicou outra habitante de Quintanilha, Hermínia Pires.
Devido ao ambiente de suspeição e desconfiança, a Guarda colocava em prática diversas operações com o objectivo de capturar os infractores. “Chegaram a revistar a nossa casa, mas nunca encontraram nada, porque deixávamos a mercadoria nalguma horta ou terreno”, acrescentou Belarmino Martins.

Santuário da Senhora da Ribeira deve-se à rainha Santa Isabel

Grande romaria da zona da raia, a festa em honra de Nossa Senhora da Ribeira leva, há diversos séculos, o nome de Quintanilha até longínquas localidades portuguesas e espanholas.
Conta-se que Nossa Senhora apareceu, no século XIII, a uma pastorinha surda-muda que apascentava o rebanho junto da ribeira de Caravela, afluente do rio Maçãs, que começou a falar e a ouvir após a aparição. A pedido da Santa, a jovem correu a relatar o milagre à população de Quintanilha, rogando-lhe que construíssem uma ermida em homenagem à Senhora da Ribeira, como passou a ser conhecida, uma vez que o milagre se deu junto a uma ribeira. Os habitantes ergueram, assim, uma pequena capelinha, onde cabiam, apenas, o padre e um sacristão, pelo que os devotos, em dias de missa, tinham que ficar na parte de fora do templo.
A caminho de Trancoso para o casamento com D. Dinis, a princesa Isabel de Aragão (Espanha) passou pela fronteira de Quintanilha, onde viu que um elevado número de pessoas prestava culto a uma Santa. A futura rainha Santa Isabel desceu do cavalo para, também, honrar a Senhora da Ribeira. Vendo a devoção do povo e que a capelinha era tão pequena, a princesa de Aragão pediu ao rei D. Dinis que construísse um templo dedicado à Santa “de Quintanilha”. E assim foi.