Falando de… Férias

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Lembrar o 25 de Abril é afirmar que Portugal virou uma página na sua história. Dizimada a ditadura, nasceu uma democracia, inicialmente, titubeante que alterou a vida de uma população clamando pela liberdade.
São palavras gastas que todos conhecemos e que vamos transmitindo aos vindouros.
Com a democracia, novos horizontes se abriram nas nossas vidas. Hábitos diferentes fomos conquistando. A escola proletarizou-se. O ensino ao alcance de todos. A cultura é para quem a quer. Bibliotecas, muitas, estão acessíveis para quem as deseja utilizar.
Férias para quem trabalha. Não há profissional que não as ambicione e as concretize. Uns por cá, outros repartem-se por terras nunca imaginadas.
O país enche-se de turistas, outrora só considerados aqueles que possuíam grandes meios. Hoje é ver praias pejadas de gente, onde o corpo ao léu, uns calções e uma roupa simples, torna o país mais democrático. Ricos e pobres misturam-se em suaves mergulhos nas águas atlânticas. Nada mais democrático que uma praia cheia de homens, mulheres e crianças banhando-se em piscinas, no mar ou no rio, esquecendo que o país, apesar de tudo, ainda vive num ambiente de ancestralidade. As formas de tratamento ainda são o estigma de classes sociais, que os partidos teimam em desconsiderar.
Falando de férias, não há quem não deseje o Algarve, ou não o escolha por destino. É o nosso desígnio. Para muitos, ir de férias é ir ao Algarve. E aí percorrê-lo todo, gozá-lo com avidez como se fosse o último dia da vida. Não há que escolher. Tudo é bom, belo, bonito, rico. O mar e o céu proporcionam um quadro edénico. Tudo fica na retina.
Olhão é também Algarve. Do mais puro e do melhor quilate. O peixe e o marisco devoram-nos o olhar. Mais adiante, as ilhas de ondas calmas, de lindas casas, de restaurantes que apaziguam a nossa ânsia de apreciadores habituados a outras iguarias. Difícil é dominar a frugalidade. As carnes que fumegam em fumeiros diferentes dos que antigamente existiam no Algarve, ficam para outros repastos. Esquecemo-nos dos chouriços, das alheiras, das postas mirandesas e com avidez, sentados, na Ilha do Farol, vamos saboreando sardinhas e tudo o que possa sugerir sabor a mar.
De Olhão à Ilha do Farol, num barco lotado de gente ansiosa pelo mar calmo, são quase quarenta e cinco minutos. Bilhetes baratos para o bolso do veraneante. A ilha faz lembrar as ilhas francesas diante de La Rochelle. As casas limpas, pequenas, primeira ou segunda habitação, recordam o aconchego e o carinho de quem à custa de sacrifício tornam o seu espaço uma espécie de paraíso terreal. E nós, habituados à leitura de jornais, lamentamos, repudiamos e censuramos aqueles que do Governo, alegando o ambiente, teimam em destruir um património inédito, ímpar e singular, baseados em critérios livrescos, que poucos conhecem.
Depois, a Televisão a fazer concursos de aldeias típicas! As ilhas são o que de mais genuíno existe. Deixem viver os que são felizes na pequenez/grandeza dos seus lares.
Depois, Olhão é terra de todos os mariscos. Das festas que não cansam e onde a alegria abunda, do Caíque que em 1808 zarpou a caminho do Brasil. Lá está uma réplica a recordar às gerações visitantes que a terra é grande e enorme. Da Restauração a denominou D. João VI. Para o Brasil demos a notícia a amigo nosso e de Portugal. Magistrado que um dia cá virá.
E de restauração é a terra modelada. Lindo hotel na orla marítima. Festival de marisco a fazer as honras da cidade, vila de antigamente, vai-se alindando. E nós veraneantes de um Portugal distante, prometemos que voltaremos a degustar aquele marisco que a empregada afirmou ser da costa, e terminar o repasto com uns figos, enxários de seu nome, ou enxários, conforme queiram, mas que os empregados, não sendo enciclopédicos, desconheciam. Não faz mal.
Até para o ano. Num Olhão que desejamos próspero, numa Ria Formosa que alimente o olhar e o coração dos que por lá se aproximam, ou num outro recanto deste país à beira mar plantado, recordando Tomaz Ribeiro.
E para memória futura, umas palavras com sabor a maresia, para mais tarde recordar!

Não foi adoptado o Acordo Ortográfico em vigor
 

João Cabrita