Imbecilidades

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Um pensador espanhol disse há dias ao El Mundo que a “imbecilidade humana é mais perigosa do que a bomba nuclear”. Fiquei a matutar na afirmação, estriba-se nas vicissitudes grotescas da imbecilidade das multidões e nas atitudes individuais do ser humano que a torto e a direito se compraz em exercitar tal negatividade de modo regular indiferente às consequências.

Como é sabido, os anais registam imbecilidades de grande dimensão, as pequenas como a do juiz Sérgio Moro apenas suscitam comentários vaporosos, a burricada corrupta do Partido Popular pode originar graves transtornos em Espanha a salpicarem Portugal, ao modo do desastre José Sócrates rebentou no nosso bolso e na credibilidade de Passos por teimosamente conseguir ultrapassar em zelo visceral a troika dando vazão ao ressentimento originado pelo forçado retorno à então Metrópole no linguajar do colonialismo. E, não foi só ele a vomitar baba e bílis pense o leitor noutros nomes do executivo passista. Não sou psicanalista, nem de longe, nem de perto, no entanto, os factos falam por si, só um exemplo: “emigrem”, lá fora também se vive!

O grego Empédocles distinguia quatro símbolos, terra, água, ar, fogo, para a representação dos elementos da cosmologia, pois bem, a imbecilidade em curso representa-se na futebolização da sociedade portuguesa, no esquartejamento da nossa língua, no esboroamento das instituições e no atropelo às boas maneiras, e ausência de sentido de Estado por parte de muitos dos seus representantes. Há dias as imaginativas senhoras bloquistas no decurso do desfile comemorativo do 25 de Abril entoaram palavras de ordem a pedirem a ida do Presidente do Brasil para junto de Salazar, antes um assessor do Bloco de Esquerda comparou a nossa PSP a bosta (continua a bolsar abstrusas opiniões acerca do racismo esquecendo sempre o racismo ao contrário), sem esquecer o aumento da dependência do povo dos subsídios tornando-o refém dos detentores do poder estatal. A propósito da proliferação dos subsídios pessoa que muito estimo disse-me há dias estar preocupado com o mimetismo venezuelano ou seja: subtilmente o tal poder dono da caixinha dos fundos fomenta a inércia intelectual, o aumento do «direito» à preguiça que o genro de Marx teorizou e anomia, a crescer em inúmeras comunidades de jovens.

O esquartejamento da língua verifica-se a todos níveis, os vocabulários vão-se reduzindo, as palavras sofrem violenta tortura, as formas de tratamento estão reduzidas ao Você de estrebaria. Seria interessante sabermos com quantas palavras trabalha no dia-a-dia um docente do Instituto Politécnico de Bragança, fazer-se um estudo rigoroso desprovido de cosmética beneficiava a Instituição para lá de todos os criadores de programas educativos e culturais. O estudo das pragas dos castanheiros, do estancamento da produção de lúpulo e das aplicações tecnológicas são importantes, o estudo das matrizes linguísticas e sua utilização nas Escolas (professores e alunos) não o é menos.

Ler é conhecimento, estamos a sapejar neste segmento, o mesmo ocorre na frequência de outros equipamentos culturais no campo da fruição, logo no oposto da utilização forçada seja nos dias festivos, seja na burocracia da procissão do desfolhar do programa. Os museus nacionais no ano passado perderam mais de meio milhão de visitantes!

O futebol transformou-se numa indústria de entretenimento de biliões de euros. Vale tudo, mesmo tirar olhos, a indústria em todas as suas vertentes consegue monopolizar a televisão por cabo de sexta-feira a sexta-feira. Vai velando a RTP 2, pois a 3 também já está contaminada.

De quando em vez (durante meia hora) pratico salto de canais, os cómicos comentadores arranham-se e soltam dichotes abaixo de regateiras de línguas sujas de sarro obsceno. Os índices de audiências mandam na composição do altar das perorações, fazem-se transferências, passarões políticos na enjeitam comentar o impacto da bola disparada à queima-roupa.

A Europa vive entre o futebol as fobias e os escândalos financeiros.

O camarada Fé-fé (Ferro Rodrigues) insurgiu-se contra a política de casos, tem razão, todavia a Casa por ele presidida tem a faca legislativa capaz de fatiar e extirpar os nódulos negros da génese da referida imbecilidade. O discurso caiu bem, porém de discursos está o País de barriga cheia, de artigos deste género também, tal como outrora a Europa, nós fingimos não ver o óbvio por enquanto expresso nos populismos já ameaçadores, no futuro tudo pode acontecer. A História…

O famoso historiador e especialista em Literatura Comparada Paul Hazard escreveu a Crise da Consciência Europeia, o nazismo e o comunismo rugiam exibindo fauces medonhas, dentro de 19 dias realizam-se as eleições europeias, quem me lê caso tenha interesse ganha se ler o livro de Hazard editado pela Cosmos. Na Faculdade de Letras alguns professores concediam-lhe honras de bibliografia prioritária logo essencial. Bons tempos!

Armando Fernandes