Mudar só dá trabalho

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As mudanças causam frio na barriga . Eu não gosto de mudar, só pelo simples facto de ter... que mudar. Normalmente envolve mexer em coisas, tirá-las dos sítios e arranjar-lhe outras. Meter-me confusão. Tenho sempre medo de deixar algo para trás. A mesma coisa com as viagens. É tudo muito bonito até que chega a hora de ir, efectivamente. Ou as horas antes em que se tem que fazer a mala, tirar coisas do sítio e levá-las para outro sítio diferente. Durante os dias em que estamos fora, nada tem sítio definido, desde que esteja à vista, não vá acabar por ficar no sítio novo para sempre.
Falando em sítios, gosto de ir a sítios onde nunca fui, mas não gosto de não saber para onde estou a ir. É chato. "Vira à esquerda, agora à direita. Agora é direita, direita, esquerda. Rais parta do GPS. Pronto, vira para trás e perguntamos ali a alguém, que isto não me parece que seja para aqui".
Viajar é bom e faz falta. Sou no entanto a favor das cápsulas que teimam em não inventar, para, através de um processo de liofilização qualquer, ficar tudo espalmadinho, sem ocupar espaço nem pesar. Chegará o dia em que vamos procurar um saco-cama no fundo da carteira, preocupadíssimos.
É bom viajar e manter-se discreto, misturando-se com os nativos. Eu pelo menos tento sempre, e até consigo que turistas, com cara de turistas, me peçam indicações. Tudo resolvido com um "eu não sou daqui, mas..." e mando sempre uma dica, com base no meu conhecimento sobre o local em questão, que pode ser quase nulo. Tenho muito este estranho defeito de transformar tudo em locais-tipo, e a partir daí imaginar que me safo em todo o lado. Não é assim, obviamente, só que pelo menos consigo manter a calma mesmo quando estou perdida e sozinha.
Como me tento misturar com os nativos, gosto de conversar com eles. Fico aborrecida quando não me respondem de forma a podermos falar, ou, em casos extremos, não me respondem de todo. Quando o contrário acontece, de repente fico sem contexto, por desconhecimento de causa, e é aí que percebo que poderia encaixar-me ali.
Contudo, aborrece-me estar fora muito tempo. Começo a sentir falta dos detalhes da minha casa. Quando era pequena, já era assim. Com uns cinco anos chorei até adormecer, em férias em casa dos meus padrinhos, porque a cama não era a minha. E se estivesse em minha casa, "a minha mãe tinha já a minha cama feita" e preparada para eu dormir. Aqui se vê o comodismo de gostar de ter as minhas coisas à mão, sem ter que pensar muito. Tudo no meu aconchegante lar.
Uma deslocação implica sempre uma mudança. Mesmo que pequena e temporária. É escolher o que temporariamente nos pode fazer falta, num jogo do adivinha. É espremer os nossos pertences numa mala, num saco ou numa mochila. A única coisa boa é que, quando voltamos, trazemos saudades de tudo e até a comida nos sabe diferente, para melhor.

Tânia Rei