Rotundas que chegam com décadas de atraso

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Há 20 anos abordei a circulação em Bragança em artigos n’A Voz do Nordeste onde destacava a importância do uso das rotundas em lugar das opções de semaforização que tinham sido implantadas ou em vias de o ser. Analisei casos de cruzamentos existentes apresentando soluções que deveriam ser adotadas para melhoria do seu funcionamento, à luz do que já se conhecia nessa década de 90 em que começavam a surgir em Portugal as rotundas como solução para a gestão das circulações nos cruzamentos, uma prática já comum nalgumas cidades médias.

É que estava demonstrado, pela experiência de vários países pioneiros, que seriam solução adequada pois permitiam o escoamento de consideráveis volumes de tráfego em boas condições de fluidez e segurança, entre outras vantagens, nomeadamente a diminuição drástica dos tempos de espera comparativamente a outros sistemas de regulação com ou sem semáforos. Mas haveria que cumprir algumas condições na sua conceção, nomeadamente no seu desenho, para a garantia das melhores condições de operacionalidade global sendo determinante a geometria a adotar nas vias de aproximação ao anel cujos raios de curvatura não devem descer a valores muito baixos. De forma similar deveriam ser tratadas as vias de saída.

Nessa ocasião apresentei a situação cujo desenho volto a reproduzir, elucidativo deste aspeto das concordâncias de inserção das vias junto ao anel das rotundas (desenho). Trata-se da rotunda junto ao Centro de Saúde, originalmente concebida segundo um formato desconforme às novas recomendações, o qual ainda hoje se mantêm, como mostra a planta da esquerda. Propus a alteração para a geometria da direita, o que resolveria inconvenientes do existente melhorando as condições de entrada e saída do anel, entre outras vantagens.

Embora se trate de situações com dimensão e contexto urbanístico bem distintos, recordo a este propósito o caso da rotunda “dos touros”, construída alguns anos mais tarde, que também apresenta raios de curvatura muito reduzidos mas que deveriam ter sido evitados pelo uso de outro critério de desenho urbano dessa praça.

Mas na rotunda do Hospital, acabada de construir, foram desnecessariamente ultrapassados todos os limites pois praticamente nem existe a curvatura de concordância que venho referindo, quer nas vias de entrada pela av. Abade de Baçal, quer nalgumas saídas, podendo daí resultar incomodidade, perda de fluidez, insegurança e limitações importantes na manobrabilidade dos veículos mais longos. Nesta intervenção é ainda de lamentar o facto de resultarem seriamente prejudicados os percursos pedonais, com o afastamento das travessias protegidas para locais menos apropriados, como é exemplo o trajeto tão importante evidenciado na foto (foto). É até difícil perceber a razão pela qual se reincide no erro depois dos alertas feitos sobre situação igual na rotunda mais abaixo em frente aos SS do IPB. Factos estes ainda mais estranhos quando se pretende implementar planos de mobilidade sustentável, que obviamente passam pela promoção dos modos de deslocação suaves como o pedonal, mas cujo incentivo se vê muito comprometido com anomalias deste calibre.

Embora com duas décadas de atraso e apesar das limitações ou constrangimentos referidos, registo o facto de a autarquia se ter rendido à evidência da vantagem na substituição recente dos semáforos pelas rotundas. Mas terão já porventura os utilizadores habituais pensado nas perdas de tempo e nos combustíveis gastos inutilmente a que foram sujeitos, parados nos semáforos em questão? E nos gastos do erário público com a implantação dos mesmos? Caro leitor, se assim pensou, não se desespere pois no meu caso há que juntar o latim que em várias ocasiões gastei escrevendo para o boneco! Resta-me a satisfação de ter sido o tempo a dar-me razão.

(Ver artigos em: www.ipb.pt/~prada )

António Prada