Se eu fosse Presidente da Câmara (II)

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Até aqui só falei de obras-emenda, isto é, obras a emendar outras obras onde se abusou do custo e se poupou demais em pensamento. Era evitável. Azeredo Perdigão dizia que “parecer que é de capelo que não de borla, de pouco servirá”. Falemos, então, de obras de iniciativa, que não compulsivas, a propor. A primeira nem obra é, nem custos tem e que me faz correr o risco de parecer obstinado pelo número de vezes que falo nela. É a exploração da caverna sita no subsolo do Castelo. Funcionários da Câmara com uma gambiarra eram o suficiente para ver (só) se na caverna há alguma coisa fora do comum. Em caso afirmativo o IPB teria todo o gosto e interesse em participar na exploração e aferir do valor histórico e/ou arqueológico dos achados. O mais normal é não haver nada, Bragança não costuma ser muito bafejada pela sorte, mas se houver pode ser o início de uma nova vertente turística. De qualquer forma eu gostava de ver o que Bragança tem por dentro. Criaria uma área de serviço numa das ligações de Bragança à auto estrada. Uma área de serviço com todos os requisitos que a logística rodoviária exige desde o Motel à restauração. (Repare-se que só Murça é que tem condições para fazer coisa parecida). Seria também o parque de estacionamento dos camiões que hoje se vêem espalhados pelas ruas da cidade e seria sobretudo um posto avançado na captação e recepção dos turistas que entram em Portugal. Seria uma montra e uma mostra do que Portugal e sobretudo Bragança podem oferecer. Ensaiaria a formação de um sindicato de municípios do nordeste para investir em força nas albufeiras do baixo Sabor. São mais de 100km de zona ribeirinha que tem todas os requisitos turísticos, desde o simples lazer, aos desportos aquáticos, à motonáutica de competição, à pesca, etc. Todos são interessados na captação de turistas além de ser um investimento, só por si, promissor como as praias do Azibo assim o atestam. Senhora da Serra. Custa- -me a crer que o fervor religioso e a pulsão turística em relação à Senhora da Serra só dure nove dias. Há que esticar essa novena por muitos mais dias, de preferências por todos. Criar um santuário permanente, já não digo todo o ano mas numa parte do ano relativamente grande. Para isso era preciso criar estruturas para albergar romeiros, turistas e afins e sobretudo criar condições para gerar uma espécie de ERASMOS religioso que penso seria muito bem aceite pelo mundo rural. Não sei se esta ideia cabe nos direitos canónicos, se a Diocese aprova, se a comissão fabriqueira gosta. Não, não sei. Mas ficaria a saber. Avaliaria da aplicabilidade em Bragança da iniciativa de alguns autarcas Italianos conhecida por “casas por 1 euro”. As casas do município são vendidas por 1 euro a pessoas com menos de 40 anos com a condição de serem recuperadas para habitação num prazo máximo de 3 anos. Os novos proprietários têm de manter a propriedade no mínimo de 15 anos e têm de deixar uma caução de 5 mil euros para garantir o cumprimento do regulamento. É uma tentativa de recuperar o património dos centros históricos com a consequente ocupação humana. Tem sido um sucesso. Envidaria todos os esforços possíveis para extirpar os cinco “cancros” de que Bragança padece. Claro que para estes 5 problemas, a Câmara não tem mão para os resolver por si só. Mas tem magistratura de influência e um capital de negociação inestimável que a coloca, se houver vontade, no centro de qualquer solução. Aliás, tenho para mim, que para qualquer problema que surja no Município, o gestor desse gigantesco condomínio tem de ter uma palavra a dizer. Assim: 1- Adega Cooperativa. Está desativada já nem sei há quanto tempo. Está hoje rodeada de construção e o seu fim é naturalmente esse pelo que hoje é um estorvo. Mas não se pense que sou adepto do seu desaparecimento. Antes pelo contrário. E uma vez que a Adega tem capitais próprios, embora imobilizados, poderia reconvertê- -los numa outra Adega, moderna, na zona industrial ou numa aldeia, e em apoios à produção da vinha e do vinho. Hoje, com castas apropriadas, com novos processos de fabrico inclusivamente, como nas adegas da Vinha Mayor do Nabeiro, onde cada um faz vinho com a mistura de castas que entende. Deveria ser uma actividade engraçada. 2- O armazém da batata de semente. Tudo que se disse para a Adega tem aqui igual cabimento. O armazém pode ser colocado em qualquer sítio que ofereça as condições exigidas e que seja barato, podendo ser eventualmente numa aldeia, porque no lugar onde está já não tem as condições logísticas exigidas caso se retomasse a actividade. O espaço agora bloqueado e sem qualquer serventia além de inviabilizar o normal desenvolvimento da cidade deve ser o espaço mais apetecido e mais caro de Bragança. Com capitais próprios avultados, embora imobilizados, far-se-ia um novo armazém e o remanescente da venda dos terrenos seria aplicado no fomento da cultura da batata de semente, desde a doce à preta, pois a sua descontinuidade sempre me pareceu um “crime”. 3- A moagem da Avenida. Está desativada há já muito tempo. O seu destino será naturalmente a construção seja lá do que for. Claro que é de um particular com todos os direitos de propriedade. Mas a Câmara é confiável, pode fazer parcerias, até com o proprietário, pode comprar, pode negociar contrapartidas, em suma, tem mil e um requisitos negociais que, se quiser, pode tirar aquilo do impasse. 4- A moagem do Loreto. É um caso igual ao anterior só que esta ainda labora. Era preciso pensar primeiro na sua deslocalização. Nada que o poder negocial da Câmara não consiga. 5-O prédio conhecido por Torralta é um edifício datado, muito bem concebido e que deveria ser preservado e mais que isso, plenamente utilizado. Mas o que vemos é uma construção esquecida, abandonada e até vandalizada. Há que devolvê-la à sua antiga actividade ou pensar na sua reconversão que são coisas que a sociedade civil já mostrou que não sabe ou não quer fazer. Mas a Câmara não pode pactuar com este impasse indefinidamente. 5-a) Os silos. Este seria o 6º cancro mas como está em resolução não conta. A sua reconversão em Museu da Língua acho-a um erro que já expus neste jornal. As duas fiadas de 7 meias canas (aquilo que pretende vir a lembrar as lombadas de livros) que é o que fica depois de toda a demolição e que é a base do projeto, foi um espartilho à criação do projectista que deveria ter tido toda a liberdade de concepção de uma obra que se pretenderia icónica. Além disso, abdicar de uma estrutura onde se poderiam acondicionar 50 a 60 quartos de estudante, de que o município precisa como do pão para a boca, com custos bastante reduzidos não me pareceu boa opção. Não há cinema em Bragança já não sei há quanto tempo e não me parece que isso tenha incomodado minimamente os poderes municipais. O cinema deixou de dar dinheiro e os privados abandonaram a actividade. Mas cinema não é só uma actividade lúdica, de tempos livres mas antes um acto cultural. Ministrá-lo seria, pois, um serviço público. Bragança que tanto dinheiro gasta em Museus (quantos tem?) não é capaz de dispensar uns tostões na actividade cinéfila. Não que ache que os Museus não são peças de cultura mas são-no de uma cultura a jusante por outras palavras, não se pode ir a um museu como quem vai ver material exposto na feira da ladra, tem de se carregar um grau cultural que permita entender o material exposto. O cinema é uma ferramenta de aprendizagem para esse grau cultural. E se alguém disser que a cultura é cara respondo com os dizeres do cartaz da livraria Gwrizienn-“…experimentem a ignorância”. Comigo haveria cinema. De preferência com tertúlia. A forma como Bragança recebeu os estudantes do Politécnico não foi das melhores. Deixados entregues a eles mesmos é fácil formarem-se clãs, ghettos e outros microcosmos sociológicos. A prova de isso é o aparecimento de uma equipa de futebol “os Africanos”. Se se tivesse pensado a tempo na sua inserção na nossa sociedade podíamos ter hoje, talvez, uma “Académica”. Pode ser que ainda se vá a tempo. Há anos fiz uma proposta num orçamento participativo de um campo de golf no lameiro do Albergue e quinta da Trajinha. São duas áreas agrícolas, propriedade do Estado logo não deve ser difícil conseguir a concessão. Seria um campo pequeno e só seria regada a área do “green” Não seria um campo para torneios do Grand Slam mas faria uma entrada bonita em Bragança e seria uma vantagem comparativa. As atribuições formais do Presidente da Câmara são por demais conhecidas. Mas outras há que não estando vertidas no papel são para mim igualmente importantes. Tudo que são contrariedades, anseios, desconfortos dos munícipes, mesmo que a Câmara não tenha com isso relação direta, devem ser alvo da preocupação do Presidente. Posto isto, sabendo que a Câmara não tem diretamente a ver com o problema que se gerou nas Conservatórias, não posso deixar de criticar uma situação que talvez já nem se passe no Uganda. A Câmara tem de obviar esse problema pois é a última esperança dos munícipes.

Manuel Vaz Pires