Tutti-Frutti

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Os principais órgãos de informação nacionais dedicaram amplos espaços noticiosos, como lhes compete e só lhes fica bem, a mais uma alargada intervenção conjunta do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sua subordinada, representada pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção.

Acção que envolveu mais de 200 elementos das entidades referidas, visou mais de setenta objectivos diferentes, entre autarquias e sedes de partidos e que surge na sequência de muitas outras rotuladas de “operações”, à boa maneira militar, o que sugere que Portugal está em guerra, ainda que do tipo civil, muito embora, até ver, se não faça uso de canhões e de carros de combate.

Operação a que quem de direito atribuiu o título particularmente sugestivo de “Tutti Frutti”, talvez por se tratar de muita fruta, duma muito suculenta salada de frutas, diria eu. Ainda que, até ver, não meta negócios de ananases e bananas, mas de deliciosos chicos espertos em apurada calda de crimes de financiamentos proibidos de partidos, adjudicações directas de serviços a empresas com interesses de machuchos políticos, tráfico de influências e bem remunerados cargos fictícios de assessoria.

Muita fruta bichada proveniente dos pomares propagandeados como biológicos dos dois maiores partidos da podre democracia portuguesa. E tudo muito bem untado e condimentado, claro está, com dinheiros dos contribuintes que é o melhor tempero para os cozinhados da corrupção.

De salientar que o Ministério Público quando vasculha as respectivas sedes indicia não só os partidos visados mas também os seus dirigentes, as autarquias e os autarcas, mesmo que não estejam directamente envolvidos, porque desleixam a honorabilidade das instituições de que são responsáveis. Tão ladrão é o que vai ao pomar como o que fica a espreitar, é o que o povo diz.

Ainda mais prejudicados ficarão a democracia e o Regime se não forem retiradas as devidas ilações políticas e criminais em tempo útil, se os processos se arrastarem indefinidamente com as useiras e vezeiras manobras dilatórias e branqueadoras, enquanto os eventuais culpados continuam a usufruir impunemente dos dinheiros e benefícios arrecadados ilicitamente, dando aso a que casos semelhantes proliferem como se de factos normais da democracia se tratasse.

Não foi, por certo, por acaso que esta notável operação da Polícia Judiciária foi desencadeada quando os portugueses vibravam com o campeonato do Mundo de Futebol e no palco do Rock in Rio se exibiam artistas de vulto, entre os quais os principais rostos do Regime, designadamente o Presidente da República, o Primeiro-ministro, o Presidente da Assembleia da República e outros destacados políticos que, por acaso, até se ufanam de serem de esquerda.

Mais “prafrentex” teria sido tão radicais artistas políticos entoarem a conhecida balada Tutti-Frutti imortalizada pelo eterno Elvis Presley, muito embora se tivessem cantado a Portuguesa a plenos pulmões até não seria demais uma vez que estava em curso uma muito relevante operação das patrióticas forças da lei.

Optaram por cantarolar, desajeitadamente, a conformista Minha Casinha, dos lendários Xutos & Pontapés, numa tentativa ridícula de disfarçar os vícios expostos do Regime e, à boa maneira de antigamente, iludir os portugueses com a alienante bondade de “morar, num modesto primeiro andar, a contar vindo do céu”.

É a triste realidade portuguesa. Enquanto a maioria salta, e dança, e ri, e quem não salta não é da malta, uns tantos, enchem os bolsos e vivem felizes para sempre, sem remorsos e sem vergonha.

Tudo a bem da Nação.

 

Este texto não se conforma com o novo

Acordo Ortográfico.

Henrique Pedro