Uma laranja na lua

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Acho que todos já viram a famosa fotografia do buraco negro que foi divulgada no passado dia 10 de abril e que, entretanto, andou a circular nos vários órgãos de comunicação sociais nacionais, dando até origem a muitas anedotas astronómicas.

O que se calhar não ficou tão claro é que esta descoberta científica só foi possível com o contributo da EU. O financiamento no valor de 44 milhões de euros foi indispensável para que o grupo de investigadores pudesse alcançar “o impossível”.

Digo mesmo “o impossível” porque o grau de dificuldade que todo o processo requer é muito alto. Sabiam que o buraco negro que foi fotografado pelo Telescópio do Horizonte de Eventos (EHT) situa-se a 55 milhões de anos-luz da Terra? Claro que, para nós, é impossível imaginar o que isso significa. Mas, recorrendo à analogia usada pelo Comissário europeu Carlos Moedas, o grau de dificuldade que envolveu a captação da imagem do buraco negro equivale a fotografar uma laranja na lua. 

Na verdade, nós nem nos apercebemos o que uma simples imagem representa. Uma coisa é certa: aquela imagem, ainda que um pouco desfocada, simboliza um enorme avanço para a ciência moderna. Como disse o Comissário europeu Carlos Moedas aquando da apresentação da imagem do buraco negro em Bruxelas, este é um verdadeiro “momento de mudança” para a ciência, que certamente “ficará para a história da Europa”.

No passado dia 10 de abril, o mundo ficou a saber algo que, há uns anos, era ainda de facto uma impossibilidade. Foi uma enorme lição de união e de progresso. E a UE desempenhou um papel fundamental nesta conquista. É impossível não nos sentirmos orgulhosos da Europa e do que já conquistámos juntos. Isto porque juntos tornámos o impossível possível. Juntos conseguimos “fotografar uma laranja na lua.”

A apresentação da imagem foi um momento aguardado com grande entusiasmo e expectativa, sobretudo pela comunidade científica internacional. O anúncio do primeiro resultado do Telescópio do Horizonte de Eventos (EHT) esteve envolto em algum mistério, mas rapidamente se descobriu que   estaríamos perante a apresentação da primeira imagem alguma vez tirada a um buraco negro. Quando chegou o momento da divulgação da imagem, houve seis conferências de imprensa em simultâneo, espalhadas pelos quatro cantos do mundo – Bruxelas, Santiago do Chile, Xangai, Tóquio, Taipé (capital de Taiwan) e Washington – e em quatro línguas distintas – inglês, espanhol, mandarim e japonês.

Como sabem, e não posso deixar de enfatizar a seguinte frase, esta foi a primeira fotografia alguma vez tirada a um buraco negro. Embora, na teoria, o conceito existisse há muito tempo, nós apenas conhecíamos o fenómeno através de simulações e algoritmos matemáticos. Mas agora não! Para além de comprovar visualmente a existência de buracos negros, a imagem que foi captada veio confirmar a teoria da relatividade de Albert Einstein. Tudo isto, em grande parte, graças à UE e ao trabalho imprescindível de vários cientistas europeus!

 

Sofia Colares Alves

Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal