A lenha das almas - Tradição ainda viva nas aldeias da Lombada

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Ter, 07/11/2017 - 11:05


Olá familiazinha!
Já estamos no mês das almas, das castanhas e dos magustos. Novembro começa sempre com o Dia de Todos os Santos e há tradições que se mantêm, como é o caso da “lenha das almas”, ritual que se continua a realizar nas aldeias da Lombada, embora este ano, devido à proibição de fazer fogueiras, o lume se tenha feito dentro dos pavilhões, nas lareiras das casas do povo das aldeias. Também na localidade de Nuzedo de Baixo (Vinhais) se manteve a tradição de “entravar” as ruas da aldeia, embora com o devido cuidado para manter a segurança e a circulação rodoviária. Nesta localidade também é costume os rapazes “roubarem” os vasos pelas varandas e enfeitarem com eles o adro da igreja.
No dia de Fiéis Defuntos tivemos um programa especial porque, com a ajuda de vários participantes, falámos à alma de centenas de tios e tias que Deus já chamou.
Na semana passada quem se encheu de trabalhar foi o nosso ministro dos parabéns, o meu João André, pois foi no dia 1 de Novembro que houve mais aniversariantes, incluindo familiares dos nossos participantes. Durante toda a semana estiveram de aniversário o tio Zé Manuel da Concertina, de Canavezes (Valpaços), que chegou aos 63; a prima Jéssica, que nos liga de Londres, festejou 9 anos; o tio Orlando Benfiquista, de Macedo de Cavaleiros, fez 67; o primo Bruno Silva, de Samil (Bragança), chegou à maior idade; a tia Mercília, da Samardã (Vila Real), completou 60; a tia Paula Farruquinha, de Coelhoso (Bragança), apagou 47 velas e o tio Narciso Augusto, dos Alvaredos (Vinhais), perfez 74. Parabéns e muita saúde a todos.

Dia de Todos os Santos
em Caravela (Bragança)

Desde que eu me lembro e que os meus pais e avó se lembram, que esta tradição existe. É claro que à medida que os anos vão passando vai-se alterando algum pormenor, mas o fundamental é feito. Em tempo de carros de bois, onde não existiam tractores ou, se existiam, eram escassos, no dia 31de Outubro os rapazes pela calada da noite, sem fazer barulho e só com um carro de bois sem animais jungidos, pois era…. eles é que puxavam o carro de sequeiro em sequeiro pela aldeia e carregavam os rachos. Depois do carro cheio eram colocados no largo da aldeia para serem rematados no dia seguinte.
No dia 1 de Novembro havia a continuação em que também as moças da aldeia davam o seu contributo. As zeladoras da Senhora da Alegria puxavam outro carro de bois para o monte e começavam a carregar como podiam. É claro que não iam sozinhas pois eram ajudadas por mais gente do povo. Ao longo do dia iam aparecendo ao seu encontro, levando sempre miminhos, como castanhas assadas ou cozidas, jeropiga, água, vinho e tudo o que podiam para consolar quem trabalhava, ficando para ajudar. Depois do carro carregado era levado para a aldeia, puxado por todos e parando para descansar, cada vez que aparecia outro ajudante que vinha ao encontro deste grupo trazendo o seu contributo e merenda. 
Os tempos mudaram e tudo se faz com a mesma finalidade, mas agora não se vai pela calada da noite roubar os rachos, vão os rapazes com um tractor, fazendo barulho e com alegria apanhando os rachos que já todos os vizinhos deixam à porta. Também já não vão as zeladoras sozinhas a puxar o carro para o monte, mas sim quem quer ir ajudar, continuando também a levar os seus mimos.
Depois de todos juntos no largo da aldeia e ao redor da fogueira, reza-se por todos os defuntos da aldeia e é rematada a lenha dos dois tractores. Todo o dinheiro que se faz é para mandar rezar as missas durante o ano pelas almas.
Esta é a minha aldeia, a minha gente, onde eu me recordo de viver isto tudo desde sempre e que agora procuro não deixar perder.

Luísa Preto