Da necessária profissionalização dos bombeiros

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Ter, 15/05/2018 - 10:40


É difícil encontrar alguém que não reconheça mérito às associações de bombeiros voluntários, instituições que têm dado contributos inegáveis para a segurança e a tranquilidade das comunidades todos os dias de cada ano.

Embora haja notícia de agremiações voluntariosas em tempos mais recuados, foi na transição do século XIX para o século XX que se enraizaram e floresceram largas centenas de corporações por todo o território, que garantiram protecção e socorro para situações de tragédia com tendência de intensificação nos contextos de concentração urbana mais ou menos acelerada que marcou o mundo em industrialização.

No nosso caso, para o bem e para o mal, a urbanização foi lenta e gradual mas, mesmo assim, corporações de bombeiros foram surgindo, criando laços e cultivando afectos, mesmo quando, em muitos casos, os serviços prestados não tinham a eficácia que as expectativas das populações cada vez mais requeriam.

Nos centros urbanos de grande dimensão o Estado instituiu a profissionalização militarizada de bombeiros, enquanto algumas cidades de média dimensão promoveram a instalação de bombeiros municipais, com características semelhantes. Mas a quase totalidade do país continuou a dispor somente de bombeiros resultantes do associativismo e da disponibilidade que o voluntariado permite.

Muitos nos lembramos das sirenes que eram accionadas quando chegava notícia de fogo ou doutros incidentes e da correria pelas ruas até ao quartel, donde partia um pequeno número de rapazes em carros vagarosos e com fraco equipamento, limitando-se muitas vezes a proceder ao rescaldo dos sinistros.

Hoje não é assim. As telecomunicações permitem substituir o grito da sirene por discretas mensagens e há, apesar de tudo, mais gente em permanência nos quartéis. Mas não se pode esperar do voluntariado a especialização técnica e profissional que as condições de vida deste tempo e os perigos que comportam exigem.

Aliás, os elementos já profissionalizados das corporações são, em grande parte, condutores de ambulâncias, meios de que se espera prontidão permanente, pelo que não será com eles que se pode contar para combater os incêndios florestais. O voluntariado poderá, com proveito, ser integrado no mecanismo de prevenção, mas o combate às prováveis tragédias impõe a existência de meios profissionalizados e especializados, um aparelho que deverá mesmo ser de tipo militar, ocupando, em malha apertada, todo o território, para responder à responsabilidade irrecusável do Estado, que é tratar com equidade todos os cidadãos, os seus bens e o património nacional.

Mesmo que houvesse a pretensão de continuar a contar com a generosidade das gentes, acontece que, no interior do país, o ritmo de envelhecimento das populações não deixa dúvidas: daqui a poucos anos, não haverá ninguém capaz de combater fogos florestais ou outros na condição de voluntariado, simplesmente porque só restarão mulheres e homens de idades avançadas, abandonados pela força física, por mais que lhes reste ânimo.

Espera-se, por isso, que não sejam proteladas decisões que já deviam ter sido tomadas  há décadas.

Teófilo vaz