Trump também não estudou história

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Ter, 17/07/2018 - 09:50


Uma das maiores conquistas da humanidade nos séculos XIX e XX foi a construção de um conhecimento histórico, cientificamente conduzido, que permite observar com racionalidade o devir das comunidades, das culturas, das civilizações, da humanidade, essa estrutura profunda, que parece imutável, mas está em permanente transformação, imperceptível para o observador comum.

Sabemos, por isso, que nada, na nossa condição, é estático e imutável e que das acções de cada um resultam efeitos indeléveis na realidade, o que acarreta responsabilidades pelo que fazemos ou deixamos de fazer em cada dia.

Essa é essência do que designamos por condição humana, conjunto de inter-relações que fizeram de um primata o animal político definido por Aristóteles, referência multimilenar da vontade de compreender e explicar o mundo.

Estudar história a sério, desenvolvendo capacidades de análise das dinâmicas da sociedade, é fundamental para que se realizem comunidades orientadas para além do instinto que rege a natureza primordial.

No século passado, o nosso país ficou marcado por décadas de um entendimento distorcido da história. Confundia-se a realidade histórica com as aparências da superfície, alimentando a crença de que tudo se resume à intervenção de uma espécie de super-heróis das narrativas próprias para entreter fantasias infantis.

A partir da década de 80, depois da investida agressiva de uma história ideologicamente condicionada, encontraram-se referências que permitiram proporcionar uma abordagem séria às gerações que passaram pelas escolas. Quando foram reintroduzidos os exames nacionais o país não tinha razões para lamentar o aproveitamento naquela disciplina, fundamental para a formação de verdadeiros cidadãos.

Mas instalou-se uma vertigem de utilitarismo e as áreas de humanidades foram desvalorizadas porque não se mostravam capazes de garantir o galgar dos degraus do sucesso material. Assim se instalou perigosa ignorância, arrogante como sempre, que nos pode conduzir a erros fatais.

Exemplo paradigmático da soberba resultante da ausência de conhecimento histórico é o caso do patusco presidente dos EUA, que parece guiar-se por caprichos do momento, como se o mundo fosse um parque infantil fantasmagórico.

A forma como os responsáveis da educação tratam o ensino da história nos últimos anos tem vindo a acentuar o afastamento dos jovens aplicados. O tipo de provas de exame, que valoriza a memorização sem sentido, fez resvalar as notas para níveis ridículos, levando os alunos a fugir da disciplina como o diabo da cruz, ao mesmo tempo que os professores se recusam a preparar papagaios, quando deveriam desenvolver competências de reflexão, de profundidade de análise, de contextualização estrutural dos fenómenos e da sua inter-relação conjuntural. Se não for rapidamente revertida esta situação, arriscamos a multiplicação de cidadãos sem norte que não o seu umbigo, como acontece com o famoso Donald, que nunca terá estudado história e se dedica a brincadeiras inadmissíveis com a vida de milhares de milhões de pessoas.

 

Teófilo Vaz