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Ciência que brota da terra

Ter, 17/06/2025 - 10:59


Num território onde a paisagem e a economia se entrelaçam com o ritmo da natureza, é reconfortante saber que há ciência de excelência a brotar no coração de Trás- -os-Montes. O Centro de Investigação de Montanha (CIMO), sediado no Instituto Politécnico de Bragança, voltou a receber a classificação de “excelente” por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Não é caso único, mas é caso raro e um motivo de grande orgulho para a região.

Este reconhecimento, atribuído pela segunda vez, veio acompanhado de um financiamento significativo, no valor de 5,5 milhões de euros. Um investimento que tem retorno garantido, não em lucros financeiros imediatos, mas em algo bem mais valioso: conhecimento, inovação, sustentabilidade e, acima de tudo, esperança para as culturas que sus- tentam muitas famílias do Nordeste Transmontano. O CIMO tem atualmente mais de uma centena de projetos em curso, sendo muitos deles decisivos para o futuro agrícola e ambiental da região.

Entre os destaques, não se pode deixar de referir o trabalho pioneiro no combate a duas pragas devastadoras para os soutos transmonta- nos: o cancro do castanheiro e a vespa das galhas do castanheiro. A primeira, uma doença que ameaça há décadas os nossos castanheiros, encontrou no DICTIS uma solução inovadora: um pro- duto biológico, compatível com os modos de produção sustentável, que permite tratar os cancros ativos nos troncos e ramos das árvores.

É um processo exigente, que requer tempo e dedicação, mas com resultados comprovados. A segunda praga, a vespa das galhas, tem no Torymus sinensis (uma vespa parasitoide) o seu maior inimigo natural. Graças à investigação levada a cabo no CIMO, este combate está a ser travado com rigor científico e com respeito pelo equilíbrio do ecossistema.

O que está em jogo é muito mais do que a saúde de uma árvore. A castanha é um símbolo, uma herança, um sustento. Trás-os-Montes é a principal região produtora de castanha em Portugal e este produto representa uma fatia importante da economia local, desde os produtores ao setor da transformação e exportação. Se não fosse o trabalho do CIMO, estaríamos hoje a assistir, impotentes, ao declínio progressivo da fileira do castanheiro.

O mérito do CIMO não está só na investigação aplicada.

Está na sua capacidade de aliar ciência de ponta ao ser- viço direto das populações, dos agricultores e do território. A excelência científica aqui praticada não se encerra em laboratórios: vai ao campo, estuda, experimenta, trata e protege. E isso faz toda a diferença.

Num tempo em que tanto se fala de interioridade, despovoamento e abando- no, é fundamental valorizar exemplos como este. O CIMO prova que é possível fazer ciência de referência internacional no interior do país. Que é possível proteger o que é nosso com inteligência, persistência e inovação. Que é possível construir um futuro onde muitos apenas veem passado.

A castanha continuará, felizmente, a fazer parte da nossa identidade. E isso de- vemos, em grande medida, a quem não baixa os braços perante os desafios da natureza, mas antes se une a ela com ciência e dedicação.

Cátia Barreira, Diretora de Informação