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Alimentação e Nutrição nos primeiros mil dias

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A alimentação é determinante para a sobrevivência de uma espécie. Na espécie humana, está provada uma forte associação entre a sua adequação e o crescimento, o desenvolvimento e a expressão do binómio saúde/doença ao longo da vida. Koletzko, 2017

É cada vez mais claro o papel fundamental de uma nutrição adequada ao longo do ciclo da vida, bem como as consequências prejudiciais de uma alimentação desadequada. Quanto mais cedo, mais as escolhas alimentares corretas vão indicar o caminho que a saúde do indivíduo vai seguir. 
Nesse sentido, há alguns anos que começou a fazer-se referência ao papel da nutrição nos primeiros mil dias de vida – período que vai desde o início da gravidez, a conceção, até ao final do segundo ano de vida da criança.
Possibilitar acompanhamento e aconselhamento adequados em termos de alimentação e nutrição nos primeiros mil dias de vida é, assim, um investimento importantíssimo na promoção da saúde e na prevenção da doença a longo prazo.

Higiene e segurança

A alimentação da grávida deve basear-se nos princípios da Roda dos Alimentos, ser completa, equilibrada e variada, continuando a evitar excesso de sal, açúcar, gordura e produtos ultraprocessados ricos em aditivos e pobres em nutrientes. 
Os cuidados de higiene e segurança alimentar tornam-se especialmente importantes nesta fase, dada a maior fragilidade da imunidade. Carnes, peixes e ovos malpassados ou crus devem ser evitados, deve assegurar-se uma correta lavagem de hortaliças e fruta (em água corrente e não de molho) e deve garantir que não há consumo de alimentos fora do prazo de validade.
As necessidades energéticas e nutricionais aumentam, sobretudo a partir do segundo semestre da gravidez, no entanto, logo desde o início podem existir diversos sintomas tais como náuseas, hipotensão (tensão baixa), azia, entre outros, que devem ser tidos em conta no aconselhamento alimentar, de modo a encontrar estratégias que permitam contorná-los, ao mesmo tempo que as necessidades são satisfeitas.

Aleitamento materno

A alimentação variada assume um papel muito especial, tanto na gravidez como no aleitamento materno, uma vez que se sabe agora que o bebé começa a ter contacto com novos sabores ainda dentro do útero, através do líquido amniótico. Esta experiência continua através do leite materno, constituindo mais uma das vantagens que o tornam o alimento preferencial para os bebés durante os primeiros 6 meses de vida. Este contacto precoce com uma gama alargada de sabores vai facilitar a introdução de alimentos novos mais tarde.
O leite é diferente de mãe para mãe, porque cada mãe tem a capacidade de produzir o leite com as exatas características nutricionais e imunológicas que o seu bebé precisa. O mito de que existem maus leites maternos deve continuar a ser combatido. Pode sim haver baixa produção, por diversos fatores que devem ser analisados caso a caso, e as famílias devidamente informadas e apoiadas na resolução dessa situação.
Sempre que o aleitamento materno não for possível, total ou parcialmente, deve ser aconselhada uma fórmula infantil (leite artificial) adequada.
Apesar da recomendação da Organização Mundial da Saúde relativamente ao início da Diversificação Alimentar (6 meses), por diversas razões as famílias podem optar por dar início antes, no entanto, deve ser sempre após os 4 meses.

Diversificação alimentar

Alguns dos sinais que mostram que o bebé está pronto para começar a diversificação alimentar são conseguir estar sentado sem apoio, não empurrar a colher para fora com a língua e mostrar interesse pela comida.
Os estudos mais recentes demonstraram que não há nenhuma vantagem em atrasar para depois dos 12 meses a introdução dos alimentos com maior potencial alergénico, como por exemplo a claro de ovo, os frutos vermelhos ou o amendoim e restantes frutos oleaginosos. Além disso, o tipo de aleitamento que está a ser praticado (materno ou fórmula) também deixou de ser critério para adiantar ou atrasar a introdução de novos alimentos.
Tendo em conta que são as primeiras experiências do bebé com aqueles que serão os alimentos que o acompanharão para o resto da vida, cabe à família proporcionar uma experiência saudável, livre de alimentos processados e sem açúcar nem sal até, pelo menos, aos 12 meses, permitindo a aquisição de gosto pelos sabores naturais. 
A água deve ser a bebida de eleição, evitando todo o tipo de bebidas açucaradas.
O leite de vaca deve ser evitado antes dos 12 meses, dado o seu elevado teor proteico e baixo valor de ferro.

Dieta familiar

Entre os 12 e os 24 meses há a transição gradual para a dieta familiar e, nesta fase, importa que a família garanta que o padrão de qualidade se mantém. O número de refeições, a sua composição e as respetivas quantidades de cada grupo de alimentos devem sempre ser proporcionais às necessidades da criança. 
Ainda que os referidos mil dias se esgotem quando a criança completa 2 anos de vida, cabe às famílias, devidamente apoiadas pelos profissionais de saúde, preservar um estilo de vida saudável também a partir daí. A prevenção continua a ser a melhor garantia, sobretudo quando se trata de saúde. 

Serviço de Nutrição e Alimentação da ULS do Nordeste