Não podemos esquecer

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As datas importantes que há na vida de todos nós, são lembradas eternamente, mas o que elas significam são muitas vezes esquecidas. E se esquecemos é porque deixaram de ser importantes. Um escritor disse um dia que “esquecer é o suicídio da alma, mas se a alma é imortal, esquecer é impossível”. Quanta alma já se remeteu ao silêncio! O dia 25 de dezembro é lembrado com carinho e muita ansiedade. É Natal. É dia de união, da família, da paz, da esperança, do nascimento. Desejamos todos, muito amor e paz, alegria e saúde e também esperança em dias melhores. Vêm de longe as pessoas ter com as famílias para poderem festejar juntos o Natal. Matam-se saudades, há demonstrações de amor e carinho pelos mais idosos e pelos mais novos. Festeja-se a data. O pior vem depois. A realidade tem sempre duas faces como as moedas que gas- tamos para festejar o Natal. Uma é o momento em que se festeja e convive, a outra é quando nos esquecemos do que desejamos uns aos outros. Quão curta é a memória dos homens e quão rápido o esquecimento! Suicidamos a nossa própria alma sem nos apercebermos. Porquê? No entanto, passamos a vida a dizer que o Natal é sempre que o homem quiser. Então porque será que não quer? Porque será que depois de o Natal passar, tudo volta à guerra, à mentira, à confusão, à falta de esperança e, a família é muitas vezes esquecida no meio do deambular sem destino do dia-a-dia? É triste, mas é verdade e a verdade dói. Há quem se esqueça dos pais que estão nos lares ou nos hospitais só porque estorvam o seu regime diário. Há quem se esqueça dos filhos nos Jardins de Infância porque simplesmente andava às compras e o tempo passou. Há quem se esqueça do filho dentro do automóvel, ao sol, com as janelas fechadas e ao regressar encontra-o morto. As compras eram mais im- portantes! Mas as datas importantes não podemos esquecer e se o 25 de dezembro não se esquece, porque havemos de esquecer outras igualmente importantes? Tão ou mais importantes do que isso é o significado que elas têm e que nos esquecemos rapidamen- te. Continuamos a celebrar o 25 de abril, mas muitos não sabem o seu significado ou confundem com outro. Festejamos o 1º. de dezembro e poucos sabem porquê. Todos os dias são dias de qualquer coisa. Marcaram-se os dias do ano para que todos estejamos alerta para o seu significado. Claro que isso é impossível recordar. Alguém o fará por nós e ainda bem, caso contrário já todos estariam esquecidos. Amanhã, a Rússia festejará o 24 de fevereiro certamente. Por boas ou más razões, ela não se vai esquecer da data, tal como a Ucrânia não se esquecerá. Hoje, também nós sabemos o seu significado, mas não temos que o festejar porque não nos toca. Amanhã, vamos esquecer esse dia tal como esquecemos o dia em que algo semelhante aconteceu na Crimeia. Cada povo tem as suas datas para comemorar de uma forma ou de outra. Cada povo tem as suas razões. As datas universais e que todo o mundo comemora, ninguém as devia esquecer. E o seu significado também não, contudo depressa isso acontece. Estamos ainda na época do Natal e todos desejamos o melhor a cada um de nós. Então porque será que não cumprimos o que desejamos? Se não cumprimos é porque o que desejamos é falso. Sai da boca para fora porque é bonito que assim seja e seria bom que assim fosse. Cumprir? Cada um sabe de si. É bom que se deseje muita saúde, pois até não está nas bossas mãos dá-la. Esperança e amor cada um toma o que quiser, até porque a esperança é a última coisa a morrer. Mas a paz está mas mãos dos homens porque a guerra é produto da ambição e da prepotência dos homens e isso não se deseja a ninguém em data alguma. É revoltante celebrar o Natal, a que a paz é associada e, fazer a guerra como se ela fosse corolário dos desejos de Natal. Como pode Putin, por exemplo, fazer uma guerra a um povo independente só porque lhe apeteceu estoirar com o armamento obsoleto que possuía já desde os anos 60? Como pode ele celebrar o Natal e certamente desejar prosperidade, saúde e paz quando ele próprio promove a guerra e acaba com a prosperidade do seu próprio povo. Esquece-se do que promete? Não podemos esquecer o significado das datas mais importantes e de como a elas estamos ligados. Celebrámos o Natal e endereçámos os nossos desejos aos amigos e familiares. No meio deles ia embrulhada a paz e a saúde. A saúde é a coisa mais importante especialmente porque estamos a sair de uma pandemia terrível e a paz para ser mantida que se recordem as datas das guerras e a quantidade de mortos que ficaram abandonados nos campos de batalha. E que promover a guerra que seja castigado por se ter esquecido da importância da paz para a Humanidade.

Luís Ferreira