Universidades inteligentes

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Para quem está com alguma atenção depois do regresso de férias ou mesmo durante as mesmas, há sempre uma intenção enorme dos Partidos Políticos e dos seus líderes, levarem a cabo alguns eventos, juntado assim algumas centenas ou milhares de militantes dispostos a ouvir o que eles têm para dizer. Se pensam que Portugal é único nesta vertente, desenganem-se porque isto acontece um pouco por todo o lado. Há necessidade de lembrar aos eleitores que eles estão vivos e que as férias foram apenas um tempo de descanso para ganhar forças para o recomeço. António Costa começou por adiantar algumas ideias futuras a levar a cabo depois de setembro, mas não quis adiantar muito mais do que isso com receio de se comprometer. No entanto ia criticando o que o líder do PSD ia dizendo a seu respeito. Contudo Montenegro, igualmente receoso, limitou-se a criticar o que Costa dizia, colando-se a alguns farrapos de verdade do que ele dizia, mas chamando a si o protagonismo da resolução futura, se o PS quisesse. Apalpadelas subtis para amaciar a fruta que alguém irá comer! Com as rentrées do mês de agosto, quase todos os parti- dos quiseram realçar as suas criticas e as suas apostas de mudança na continuidade do governo. Sim, porque o gover- no continua, mas as apostas só são de quem as aponta, sa- bendo de antemão que pou- co ou nada resolvem, já que o governo tem maioria. Mas tentar não custa. Com algum interesse, apa- rece sempre a universidade de verão do PSD, onde os jo- vens vão iniciar-se nos mean- dros da política, nas ideias dos políticos e numa visão global do que se pretende ou se vive no mundo atual. É uma aposta do PSD há muitos anos e que tem resultado, segundo parece. Na Universidade aprende-se alguma coisa e aqui também é esse o propósito. Os professores são variados e os temas da aprendizagem também. Mas a aposta está nos professores que vão discursar e apresentar as suas teses. Assim encontramos um peso pesado nesta universidade de verão do PSD. Paulo Portas, convidado especial, apresentou a sua visão de uma geopolítica global, prendendo a atenção dos mais curiosos e até dos mais im- berbes politicamente. Foi uma aposta ganha. Aqui Mon- tenegro teve a ideia sublime de querer vencer e ganhar a sua aposta. Falar de Marcelo e das uni- versidades de verão do PSD é redundante. Está sempre pre- sente. Este ano só quis falar da Ucrânia para fugir a ques- tões polémicas. Tem tempo para se pronunciar sobre o que pensa que vai menos bem e que o governo teima em não mudar. É um modo de intervenção diferente. Todos ficam a saber que algo vai mal e que deveria mudar. Montenegro vai-se desdobrando por todo o lado desde o Algarve a Castelo de Vide e à Madeira. A aposta imediata é ganhar a maioria na Madeira e para isso faz disso alarido e tema principal para se lançar para as europeias que diz querer ganhar. Claro que quer, mas a distância ainda é enorme. Se isso acontecer, a proposta apresentada na universidade de verão é ganha e, uma vez mais, serviu para o lançamento do partido e dos seus objetivos. O PS parece ter dado já as aulas todas. Não há univer- sidades de verão nem aulas avulsas, mas há críticas e propostas. Critica o que diz Montenegro e este critica o diz Costa. O PSD quer ganhar as eleições legislativas e até pede a maioria absoluta para que não tenha de fazer algu- ma geringonça com o Chega ou com a Iniciativa Liberal. Pedir não custa. Embora a distância percentual não seja muita, é preciso muito mais para ter a maioria absoluta. Penso que não vai ter e, se ga- nhar as eleições, isso servirá para saber negociar com as restantes forças políticas se quiser governar com sabedoria e com democracia. Parece que alguns se esquecem que a democracia passa por aí. A este propósito e a imitar as universidades de verão que por cá se vão fazendo, também Putin as quis fazer, mas com uma diferença enorme como é seu hábito. Falou sozinho, não convidou ninguém para falar e transmitiu aos jovens que vão iniciar novamente as aulas do novo ano letivo, a ideia de que a Rússia é um país invencível e que o que ele fez e faz na Ucrânia está certo e tem toda a razão para o fazer. Pelo meio elo- giou os soldados que por lá vão andando e caindo em combate, fazendo deles uns heróis dignos de futuras lem- branças. Esta universidade de verão de Putin não agrada a ninguém e parece que nem aos alunos que, silenciosos, assistiram à verborreia política que durante largos minutos ouvira da boca do Presidente da Federação Russa. Semelhanças? Com quem? Nas universidades tem que se ser honesto, sério, inteligente e democrata. Coisa que Putin ainda tem de aprender.

Luís Ferreira