Pandemia sem coração

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Qua, 06/10/2021 - 09:12


Por cada português que morreu de Covid-19, dez foram vítimas de doenças cardiovasculares. Estas doenças são a pandemia que mais mata em Portugal, dizem os especialistas. 
E nós, numa região tão envelhecida, o que temos? Apenas um cardiologista, no Sistema Nacional de Saúde, para o distrito. VERGONHA meus senhores, vergonha!
Mas qual pandemia qual quê? Não há desculpas para uma situações destas. Arranjem incentivos para os médicos, arranjem o que quiserem, mas as pessoas não podem suportar isto. Saberem que a qualquer momento podem ter um enfarte do miocárdio e não terão acesso imediato a um médico especialista. 
Já para não falar dos doentes crónicos que vêem as suas consultas serem adiadas, canceladas etc, sob uma bandeira chamada “covid-19”. 
Durante este período pandémico os idosos apavoravam-se só de pensar que teriam de ir ao hospital ou ao centro de saúde, tal era o medo da covid-19 (muito causado pelos meios de comunicação social também). Isso ficou claro com estudo realizado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia que diz mesmo que “metade dos doentes cardíacos não procuraram o médico por terem mais medo da pandemia Covid-19 do que da sua própria doença”.
Na entrevista do professor Manuel Carrageta pode ler-se que para agravar a actual situação cardiovascular, é bem conhecido que o SARS-CoV-2 ( vírus que provoca a temida Covid-19) pode causar doença vascular, provocada pela resposta imunitária com libertação de citoquinas inflamatórias. Em consequência, os doentes podem vir a sofrer de enfartes do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais e miocardites que eventualmente evoluem para insuficiência cardíaca e até podem causar morte súbita.
Resumindo, a Covid-19 não é desculpa para termos uma resposta deficitária a nível de cardiologia. “Resposta deficitária” é uma forma agradável porque queria dizer mesmo vergonhosa. 
Pelo distrito fora, onde não há respostas de saúde, quem vale às pessoas são mesmo os bombeiros que as trazem aos hospitais e, por isso, na capa desta edição damos-lhe destaque. Uma actividade nobre, mas que só nos lembramos quando precisamos dela, à semelhança da maioria das coisas. 
Na capital de distrito é necessário angariar bombeiros voluntários e têm mesmo dificuldade em fixar estes profissionais. 
Durante o mês de Outubro, os Bombeiros de Bragança vão ainda visitar escolas e estar próximos dos caloiros que chegaram agora ao IPB para atrair jovens voluntários. Depois da formação completa, podem ainda fazer parte do corpo efectivo dos bombeiros. 
Os voluntários, como em todos os sectores sociais, são uma das reservas morais da sociedade. Homens e mulheres que expõem a própria vida para salvar bens públicos e particulares, assim como a vida de todos. Constituem, portanto, uma das expressões colectivas mais elevadas da solidariedade humana, visíveis na sociedade organizada.
Solidariedade precisa-se também na classe médica. Numa região onde não há cuidados de saúde também não pode haver gente. 
Um grande bem-haja e profundo reconhecimento a todas as corporações de bombeiros voluntários do distrito de Bragança que protegem e se dedicam com grande empenho aos seus concidadãos. 

 

Cátia Barreira