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A maçonaria e os segredos do conhecimento e da liberdade

Qui, 19/12/2019 - 11:13


A porta abriu-se e do lado de dentro estava aquilo que podemos designar de “mini museu”.

Para os menos curiosos, provavelmente não passaria de um espaço cheio de objectos, alguns utilizados diariamente, outros para mera decoração. “Mas afinal o que estará de tão especial dentro daquelas quatro paredes?”, “Que importância tem este espaço?”, “Qualquer pessoa poderá aceder a ele?”, foram algumas das perguntas que se impuseram antes de passar aquela porta. Na parede vi fixado um Delta Luminoso. Podia tratar-se de um mero objecto decorativo, mas afinal o significado era outro. “Ali tem o olho do grande Arquitecto do Universo, o olho daquele que criou o mundo e depois o delegou no Homem”, explicou Nuno Maia, maçon há mais de 25 anos. Do lado esquerdo do Delta Luminoso, encontrava-se o Sol, símbolo da luz, e, do lado direito, a Lua, como reflexo simbólico da escuridão. “É preciso sentir o que significam estes bens e estes objectos”, lançou. Naquele momento, já era possível ver uma luz ao fundo do túnel, primeira resposta às inúmeras perguntas. Trata-se de um templo da Maçonaria. Como dizia Moloc Sellarium, “a Maçonaria é a escola, a arte, o caminho e a ciência da liberdade total e absoluta do pensamento”. Dela fazem parte Homens que estudam para o aperfeiçoamento da sociedade humana. No chão encontravam- -se umas escadas de madeira, com três degraus, e sobre o seu degrau superior estavam os três livros fundamentais das três religiões, a Torah, o Corão e a Bíblia. Mas também lá estava Constituição Portuguesa, para os ditos ateus. Com o passar do tempo e com as explicações que me eram dadas à medida que observava tudo pormenorizadamente, as peças do puzzle, que inicialmente estavam espalhadas, começaram a juntar-se e uma parte, apenas uma parte, da mensagem ficou clara. Quando alguém é convidado a ser maçon, (só se faz parte da irmandade através de convite) depois de passar por alguns testes (que ainda continuo sem saber quais), é considerado aprendiz, mais tarde companheiro e, por fim, mestre. Consoante a sua religião, o juramento do aprendiz é feito sobre o livro fundador da religião que pratica. Desta forma, a conclusão é simples: a Maçonaria é transversal a todas as religiões e acessível a todas as etnias, classes e crenças, quer religiosas quer politicas. E se o Deus desta irmandade é o grande Arquitecto, as três grandes luzes da maçonaria são o Volume da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso. Lá estavam eles no templo. A Lei Sagrada no fundo da sala, ao centro, como se fosse algo intocável e inatingível para as pessoas de fora. Um livro grande e grosso que certamente dita os princípios básicos da Maçonaria, a Fraternidade, a Liberdade e a Igualdade. Mas porquê um esquadro e um compassou? O compasso porque simboliza o espaço e o rigor e é o objecto que permite ao arquitecto materializar o seu pensamento. Já o esquadro simboliza a rectidão e o respeito pelas leis e pelos regulamentos. Nuno Maia faz parte da Loja Luz do Norte, em Macedo de Cavaleiros, mas com a sala vazia de casa achou que o melhor seria construir um templo ali. E se o templo é a casa dos maçons, para Nuno Maia era mesmo. De entre os vários objectos que já observei, questionava-me porque estavam três pequenas colunas no meio da sala. Mais uma vez tinham simbolismo, significavam sabedoria, beleza e força. Três: talvez a palavra que mais repeti e ouvi naquele dia. Com o tempo percebi que na Maçonaria nada é um acaso. Tudo tem a sua lógica. “O número três é o número perfeito, expressão do todo acabado. O triângulo é o símbolo mais importante e cruza-se com o número três”, ouvi-o, mas também o li no livro “25 anos de Luz no Norte”. Um livro composto por textos escritos por maçons da Loja Luz do Norte. Ainda assim, alguns assuntos ainda não estavam claros. Afinal porque é que um dos principais deveres do maçon é guardar segredo absoluto do que vê ou ouve nas sessões passadas no templo? Continuará a haver sempre um secretismo associado à Maçonaria? “Há situações em que temos que ter uma certa privacidade em relação a pessoas, mas se somos uma sociedade secreta? Não somos”, disse-me Nuno Maia. Já no livro que referi anteriormente é possível ler, num dos textos, que os maçons estão em “permanente aprendizagem” e se comprometem ao “segredo maçónico”. “Escondemo-nos apenas pela atracção do mistério e pelo desejo de penetrar em nós” (livro “25 anos de Luz no Norte”). Mais de 25 anos passaram e o mestre, Nuno Maia, depois de ter passado por vários testes, ter subido degraus e ensinado outros maçons, sente que ainda há muito para aprender, mas agradece a todos os irmãos que o ensinaram a ser tolerante e solidário. “Sinto-me feliz por pertencer à Maçonaria”, concluiu.

Jornalista: 
Ângela Pais