Ter, 25/05/2021 - 11:03
Mas haverá uma idade certa para entrar para a política? Estará um jovem preparado para aceitar um cargo importante? Ricardo Cordeiro é a prova de que “de pequenino é que se torce o pepino”. Com 19 anos foi eleito presidente da Junta de Freguesia de Castanheira, no concelho de Mogadouro. O pai, que já tinha sido vice-presidente da junta da aldeia, foi a sua grande influência. “Foi principalmente o meu pai que já não está cá, infelizmente, que me fez aceitar o desafio. Ele e outras pessoas fizeram com que aceitasse criar uma lista e avançar”, contou. Em 2009, por dois votos ganhou as eleições, numa aldeia que tinha cerca de 120 pessoas. Uma vitória considerada “renhida”, mas “por um se perde e por um se ganha”. Lançou-se de cabeça, já que tudo “aconteceu muito rápido” e não teve tempo para “pensar”, mas o mogadourense sentiu que tinha hipóteses para ganhar. Aceitou o cargo com “naturalidade”, tendo consciência de que seria um “grande desafio”. “Para um jovem de 19 anos, que na altura frequentava o secundário, em Mogadouro, senti que era um desafio grande, mas nada que não se conseguisse alcançar. Senti alguma pressão por ser jovem, mas tudo correu dentro da normalidade”, disse. A idade passou a ser um número, já que se sentiu capaz mais do que ninguém de “desenvolver projectos e ajudar a aldeia a crescer cada vez mais”. “Senti que seria capaz e que seria capaz de levar o mandato para a frente. Senti-me mais capaz que ninguém. Conseguimos coisas que se calhar outros não conseguiriam. Durante esses quatro anos realizamos bastantes obras”. Em 2013 foi feita uma reestruturação das freguesias e aquelas que feita a união das que tinham poucos eleitores. A junta de freguesia de Castanheira foi uma das que passou por essa transformação e passou a ser União de Freguesias de Brunhosinho, Castanheira e Sanhoane. Voltou a candidatar-se, mas dessa vez enquanto tesoureiro. Foi a única lista a sufrágio e era certa a vitória. Mas à medida que os anos foram passando, Ricardo Cordeiro estava cada vez mais afastado da sua terra. Em 2010 foi estudar para o Instituto Politécnico de Bragança onde fez o CTESP em Tecnologia Alimentar e decidiu seguir para a licenciatura de Engenharia Alimentar. A mais de 72 Km de distância da terra que o viu nascer, o tempo começou a ser reduzido para conseguir cumprir as suas responsabilidades e, por isso, o final do mandato foi também o fim da política para si. “Quis sair da junta de freguesia porque não passava o tempo que eu achava que devia passar na aldeia. Estava a estudar em Bragança e não tinha tanto tempo como tive nos meus primeiros quatro anos”, referiu. Ainda assim, decidiu voltar a representar os outros e foi, durante dois anos, presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior Agrária, do IPB, e mais tarde presidiu a Associação Académica. Cargos que ocupou também com naturalidade, graças à experiência que já trazia na bagagem. “Ganhei alguma responsabilidade, alguma maturidade e isso ajudou-me a desenvolver o meu trabalhado. Fui dois anos presidente da Associação de Estudantes da Escola Superior Agrária, posteriormente abracei o projecto de presidir a Associação Académica do IPB e foi com grande orgulho que desempenhei essas funções. Mas sim, enquanto estive na junta de freguesia e com a idade que eu tinha, adquiri muitas responsabilidades e ajudou-me a desempenhar as funções de presidente da associação académica”. Há dois anos que largou o cargo e pôs de parte as responsabilidades. O facto de ter entrado tão cedo para o mundo da política disse tê-lo cansado e feito reflectir sobre o seu futuro. Mas, enganam- -se aqueles que pensam que Ricardo Cordeiro ficará por aqui. O mogadourense deixou em aberto a possibilidade de voltar abraçar novos projectos e cargos de relevância. Não tão novo, mas também com pouca experiência, Albino Rodrigues é outro exemplo. Aos 27 anos foi eleito presidente da Junta de Freguesia de Rebordainhos, actual União de Freguesias de Rebordainhos e Pombares, no concelho de Bragança. Foi também incentivado por outras pessoas a candidatar-se e o objectivo era óbvio: “ganhar”. “Na altura claro que pensei que era novo, mas com a ajuda do presidente da câmara foi mais fácil”, disse, admitindo que passou por algumas dificuldades, principalmente nos primeiros meses. “Nos primeiros três meses, meio ano, no primeiro orçamento que fizemos para a junta é que tive mais dificuldade, mas depois passou. Tinha uma rapariga ajudar-me, a secretária era engenheira”. Com 48 anos, conta já com três mandatos de presidência. A experiência permitiu-lhe perceber que nem sempre se agrada a todos e nessas situações o melhor é “ter calma”, até porque só assim se resolvem os problemas. “O mais difícil é quando as pessoas se chateiam e temos que ter calma. Mas a aldeia é pacata, não é difícil. Na altura [quando foi eleito pela primeira vez] ouvia as críticas e tentava emendar e resolvi os problemas com calma”, contou. Apesar de admitir ser “cansativo” ter este cargo, Albino Rodrigues disse gostar de ser presidente e avançou que vai voltar a candidatar-se. “É último mandato do presidente da câmara, pediu- -me para continuar e eu tenho que continuar”, referiu, acrescentando que há trabalhos que tem que concluir o que prometeu. Quanto aos jovens na política, a sua opinião é clara “é melhor que seja uma pessoa jovem do que idosos”, concluindo que prestaria todo o apoio e dava “força” a quem o fizesse pela aldeia.