A Diretora deste Jornal, Cátia Barreira, no seu editorial da edição 25 de março, louva a ação da Associação Matiz, de Mirandela que, desde 2023, percorre aquele concelho da Terra Quente, para dar apoio domiciliário aos vários doentes mentais da região. Sob o comando e orientação da assistente social, Filipa Febre, a equipa mirandelense presta apoio nas tarefas diárias dos vários utentes, desde tarefas rotineiras, como o cuidado com a casa até à prática de jogos didáticos dedicados à melhoria da patologia, passando, pela gestão financeira e compras para a sua subsistência. Na reportagem, em duas páginas, é dado conta do apoio da OCDE e do Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde. E bem. Estudos recentes dão conta que, na Europa as demências afetam 7 milhões de pessoas e estima- -se que dupliquem a cada 20 anos. O tratamento das doenças neurodegenerativas custa, atualmente, 130 mil milhões de euros por ano (mais de metade do PIB nacional). Afetando igualmente novos e velhos, é nas pessoas mais idosas que a prevalência é maior. Portugal é já um dos países mais envelhecidos e, pior, está entre os três países da OCDE que envelhecem mais rapidamente. Segundo o Eurostat, no nosso país a diferença entre a esperança de vida e a esperança de vida saudável é de 19 anos para os homens e 27 para as mulheres. É urgente enfrentar o desafio de proporcionar aos afetados por estas patologias a possibilidade de viverem mais anos com maior autonomia e qualidade de vida. Uma das formas é a que a Matiz está já a levar a cabo no nosso nordeste. Outra é a que já se desenha e vai dando os primeiros passos, firmes e prometedores, na Fundação Champalimaud sob as batutas do investigador Joe Paton e do médico John Krakaeur, com o projeto “Digital Therapeutics” em desenvolvimento num antigo armazém de peixe da Docapesca, com recurso às mais avançadas tecnologias e desenvolvimentos da Inteligência Artificial. Na antiga lota da Doca de Pedrouços ganha forma um ecossistema de terapias digitais, imersivas e não invasivas que desenvolverá uma infraestrutura única, a nível mundial disposta a combater, especialmente as doenças de Alzheimer e de Parkinson, proporcionando um acompanhamento de longo prazo dos doentes, de forma sustentada e inclusiva, preferencialmente, nas suas residências. E este é um ponto comum à atividade da Matiz: dar prioridade ao tratamento domiciliário! No resto há diferenças substantivas por razões diversas, desde os recursos disponíveis até ao ambiente diferenciado dos doentes. Paradoxalmente, quem sofre de Alzheimer, no centro de uma grande cidade, sobrelotada de Alojamentos Locais e de habitação horizontal, fica, na prática, mais isolado do que quem habita uma qualquer aldeia do interior, por mais despovoada que seja. Provavelmente as visitas diárias podem ser, igualmente, uma forma acertada de mitigar os efeitos nefastos de tais patologias, mas não há dúvida que o acompanhamento remoto e constante (só possível com recursos às novíssimas tecnologias de simulação e replicação de ambientes diversos e diferenciados) é mais eficaz, mais efetivo e, apesar do custo inicial, mais barato quando em velocidade de cruzeiro. Porém, não há nada que impeça uma solução mista que, seguramente, beneficiará qualquer uma delas. Pessoalmente, dar-me-ia muito prazer ajudar a estender ao nordeste a atuação da Champalimaud, num dos ramos em que é pioneira a nível mundial e, igualmente, ver alguns conterrâneos a colaborarem num desenvolvimento com a qualidade do que está a ser desenvolvido em Algés.