Ter, 15/04/2025 - 09:29
A notícia que publicamos nesta edição revela uma realidade preocupante, mas infelizmente não surpreendente: no distrito de Bragança, o socorro de emergência médica continua a depender mais da resiliência dos bombeiros do que da responsabilidade do Estado.
A ausência de ambulâncias tripuladas por técnicos do INEM em vastas zonas do território, onde os hospitais estão a mais de uma hora de distância, é um retrato cruel de um país que insiste em manter duas velocidades, uma para o litoral e outra, bem mais lenta, para o interior.
É inaceitável que o socorro em emergências continue a ser assegurado maioritariamente por corporações de bombeiros, com meios próprios adquiridos à custa de esforço, criatividade e, não raras vezes, de fundos que deviam estar canalizados para outras necessidades. O caso dos Bombeiros de Bragança, que operam com nove ambulâncias para colmatar uma única fornecida pelo INEM, é exemplo claro disso.
Não se trata apenas de meios, mas de competências. A diferença entre a formação dos bombeiros (240 horas) e dos técnicos do INEM (900 horas) reflete-se diretamente na qualidade dos cuidados prestados no terreno. Reconheça-se o mérito de quem faz o melhor com o pouco que tem, mas não se aceite que esse “melhor possível” seja o suficiente. Porque não é!
O novo protocolo entre o INEM e a Liga dos Bombeiros, que aumenta os subsídios mensais às corporações, parece mais uma medida de alívio financeiro do que uma verdadeira resposta à insuficiência de meios. Dizer que o protocolo “vai melhorar o socorro” sem garantir mais recursos humanos especializados ou mais viaturas operacionais no imediato é, no mínimo, uma forma criativa de encobrir a realidade.
O interior do país tem direito ao mesmo nível de socorro que o resto do território. Este é um princípio de justiça social, de equidade no acesso à saúde e, acima de tudo, de respeito pela vida humana. Não podemos continuar a aceitar que a geografia seja desti- no e muito menos sentença.
Também nesta edição, destacamos uma reportagem que, ao contrário da anterior, traz sinais de esperança: o mercado de cabritos e cordeiros está animado e os produtores da região estão a escoar toda a produção, muitas vezes a preços mais vantajosos. Depois de tempos difíceis, como os anos da pandemia, esta quadra pascal trouxe alento a quem vive da pastorícia. Contudo, é impossível ignorar a tendência preocupante, o número de animais diminui ano após ano, fruto do abandono da atividade e da falta de apoios estruturais. Que o sucesso desta época sirva também de alerta, é urgente apoiar as raças autóctones e criar condições para que as novas gerações vejam no campo uma oportunidade e não um fardo, no que toca à criação de gado.
A todos os nossos leitores, desejamos uma Feliz Páscoa. Que este tempo de renovação nos inspire a exigir mais justiça e dignidade, na saúde, na agricultura e em todas as áreas onde a região precisa do nosso sentido crítico e reivindicativo.
Cátia Barreira, Diretora de Informação