Qua, 30/04/2025 - 10:04
A edição desta semana do Jornal Nordeste chega às bancas com um dia de atraso. O motivo é conhecido por todos: o grande apagão que, esta segunda-feira, paralisou não só a região, mas também vastas áreas de Portugal e da Europa. Sem eletricidade, sem rede móvel, sem acesso à internet, ficou claro o quanto dependemos da tecnologia para as tarefas mais básicas, incluindo fazer este jornal.
Se, por um lado, o regresso forçado aos tempos antigos trouxe momentos de convívio e memória para muitos, por outro revelou a vulnerabilidade extrema em que vivemos, tanto face à tecnologia como à dependência de infraestruturas e recursos controlados por outros países. Supermercados encerrados, bombas de gasolina inoperacionais, farmácias em risco de perder medicamentos vitais, tudo parou. E se este apagão tivesse durado mais do que algumas horas?
Este episódio não pode ser visto apenas como uma curiosidade ou um contratempo passageiro. Deve antes servir como um sério aviso. Precisamos de pensar alternativas, reforçar infraestruturas e preparar respostas para eventuais crises futuras.
E com a chegada do bom tempo e a intensificação dos trabalhos agrícolas, volta a surgir um alerta que também nunca deveria ser esquecido, a segurança no manuseamento de tratores e máquinas agrícolas. Os números falam por si e são, infelizmente, alarmantes! Só no ano passado, no distrito de Bragança, registaram-se 19 acidentes, dos quais resultaram 12 vítimas, seis mortos e seis feridos. Este ano, e ainda sem termos chegado a maio, já se lamentam duas mortes.
A repetição destes acidentes não pode ser encarada como uma inevitabilidade associada ao trabalho rural. Pelo contrário, deve ser motivo de reflexão e de ação. Tal como salientou o major Hernâni Martins, do Comando Distrital de Bragança da GNR, o conhecimento profundo das máquinas, a consciência dos seus limites e a adoção de práticas de segurança, como a utilização do Arco de Santo António, são medidas que salvam vidas.
Ainda assim, é preciso reconhecer que não basta pedir mais cuidado. A maioria das vítimas são agricultores idosos, muitos dos quais acumulam décadas de experiência, mas que, pela idade, veem diminuídas as suas capacidades de reação em situações de emergência. Mas também se registam vítimas jovens, o que demonstra que o risco é transversal a todas as idades.
Por isso, a formação obrigatória em “Conduzir e operar com o trator em segurança”, cuja conclusão será exigida até agosto de 2025, é uma medida necessária e urgente. Não se trata apenas de cumprir uma formalidade legal, mas de criar uma verdadeira cultura de segurança no meio agrícola, onde a prevenção deve começar antes mesmo de se ligar o motor de uma máquina.
A GNR, com a sua “Operação Campo Seguro”, tem dado passos importantes no terreno, reforçando a vertente da sensibilização em vez de apenas agir de forma reativa. Esta aposta no contacto direto com os agricultores, no aconselhamento e na partilha de boas práticas, é fundamental.
Evitar estes acidentes está ao alcance de gestos simples, de cuidados básicos e de uma atitude permanente de respeito pelas máquinas e pelo terreno.
Cada trator que circula nos nossos campos deve ser sinal de vida, de trabalho e de esperança e nunca de tragédia.
Cátia Barreira, Diretora de Informação