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Martim Moniz de novo entalado nove séculos depois

Portugal é um dos países mais antigos da Europa e do Mundo, com uma História recheada de heróis e de santos. E de traidores e cobardes quanto baste, como é óbvio. Nem de outra forma poderia, de facto, assim ser. Considerando heróis os que se distinguem pelos seus feitos nos campos de batalha, não enquanto personagens do teatro ou do cinema, e santos aqueles que pela sua extraordinária bondade e virtude são, como tal, reconhecidos pela Igreja de Jesus Cristo. Lamentavelmente, porém, vários indicadores apontam para que este velhinho estado-nação seja candidato ao top da irrelevância geopolítica e cultural, se é que ainda lá não está, face aos ventos de mudança hegemónicos e totalitários que assolam o mundo em geral e a Europa em particular. Significa isto que o glorioso passado, universalista e humanista de Portugal será, em breve, definitivamente enterrado e esquecido, quando até há escassas décadas a cidadania e o direito emanados da vetusta metrópole colonial eram lei em vastas regiões da vizinha África e do longínquo Oriente. Que se traduziam na inovadora integração de milhões de almas de todas as raças e credos, que aderiam à ideia prevalecente daquilo que então se denominava Portugalidade e que muitos, hoje em dia, procuram reduzir ao racismo e ao esclavagismo. Cidadãos que, no seu íntimo, entendiam que esse projecto de portugalidade era o que melhor servia o progresso, bem-estar, identidade e unidade dos povos donde provinham. Deu-lhes razão a História, infelizmente, até melhor ver, porquanto os novos potentados de pronto desprezaram e lançaram na mais escabrosa miséria os seus concidadãos, assim se explicando que estes, quando podem, procurem refúgio, em massa, na antiga metrópole, dita colonialista. Desejável, a todos os títulos e códigos, será, por tudo isso, que a velha formula sociopolítica que justamente, sem outros subterfúgios, se deve continuar a denominar Portugalidade, prevaleça, ainda que no território restrito do Portugal contemporâneo, agora com mais clareza e verdade, por muito que custe aos novos ideólogos e moralistas que, de má fé, pretendem reescrever a História, pela negativa e a seu bel-prazer. Piores augúrios, contudo, são os que apontam para que Portugal e toda a Europa, incluindo os sagrados princípios de liberdade, igualdade e os cristianíssimos valores de amor e paz, poderão desaparecer a breve trecho, em parte ou no todo, integrados a ferro, fogo e perfídia, numa sinistra teocracia islâmica, cujos ideólogos continuam a pensar e a viver doze séculos atrás. Ninguém tem dúvidas, por exemplo, sobre os verdadeiros propósitos dos próceres do Irão xiita, seus próxies e outros afins. Convém por isso relembrar e ter presente que a História de Portugal se iniciou com Afonso Henriques, em 1143, a data mais consensual da sua fundação, tomando como referência o reconhecimento da sua independência pelo reino de Leão. E que determinante foi a consagrada tomada de Lisboa aos mouros, em 1147, no quadro da Reconquista cristã da península Ibérica e no decurso da qual se notabilizou o lendário cavaleiro cristão Martim Moniz que, ao aperceber-se de uma porta do Castelo entreaberta, atravessou o seu próprio corpo no vão da mesma, morrendo entalado, mas impedindo o seu fecho pelos defensores e assim possibilitando a entrada dos combatentes cristãos no reduto inimigo. Não sabemos se Martim Moniz recebeu outras pagas por este seu feito glorioso para lá de ter sido dado o seu nome a uma das mais emblemáticas praças da capital portuguesa, a Praça Martim Moniz, precisamente que, até hoje, nenhum político se atreveu a rebaptizar. Praça e áreas circunvizinhas que estão, presentemente, convertidas numa verdadeira bomba política, social, cultural e religiosa, pela criminosa incompetência e pusilanimidade de sucessivos governantes, autarcas, primeiros-ministros e presidentes da república, que governam prioritariamente de olhos postos nos actos eleitorais imediatos. Governantes que neste caso sacramental da histórica Praça Martim Moniz, como noutros de diferente natureza e de não menor importância, como sejam a simples formação de profissionais da Saúde e do Ensino, para não referir a fulcral quebra da natalidade, deveriam primar por prever os desafios e as dificuldades com a devida antecedência e prover, em tempo oportuno, os meios e as medidas que a melhor governança requer. Não é isso que se tem verificado, infelizmente, pelo que o regime democrático continua a ser injustamente desprestigiado por estes factos lamentáveis que só poderão ter desfechos dramáticos. Assim é que o cavaleiro Martim Moniz está de novo, nove séculos depois, alegoricamente entalado às portas de Lisboa. Falta saber quantos outros cavaleiros contemporâneos irão morrer de verdade, entalados nas portas da traição do castelo político.

Henrique Pedro