Reza uma lenda arménia que numa pequena ilha do lago Van vivia a princesa Tamar por quem se apaixonara um camponês das redondezas e que, a nado, a procurava, todas as noites, orientado, no meio da escuridão, por uma lamparina que ela acendia numa das janelas do seu palácio. Numa fatídica noite, ia o jovem, a meio da viagem, quando a luz se apagou, havendo duas versões para a causa do trágico incidente. Uma relata que o rei, descontente com o enamoramento da filha, resolveu acabar com as incursões noturnas atirando a candeia às águas. A outra dá conta de uma grande borrasca, inesperada mas tão violenta que não só extinguiu a chama luminosa como levantou ondas alterosas dificultando ainda mais a travessia noturna. Em qualquer dos casos, o jovem enamorado desorientou-se e nadando sem destino soçobrou gritando pela sua amada: Akh Tamar, Akh Tamar (Oh Tamar). Esta história, contada de geração em geração acabou por consagrar a expressão como sendo uma única palavra Akhtamar de onde houve nome não só a pequena ilhota bem como a própria princesa. Em sua homenagem, o povo arménio fez-lhe uma estátua. Não no original lago Van, por ter sido anexado pela Turquia, juntamente com uma expressiva porção de território que incluiu parte significativa do bíblico monte Ararate onde, depois do dilúvio, poisou a Arca de Noé. A estátua da lendária princesa, por esse motivo, em vez do lugar original da tragédia que a celebrizou, foi erigida numa pequena península, nas imediações do lago Sevan o segundo da região, em dimensão, que não em beleza natural. Quem, depois de visitar o mosteiro Sevanavank, percorra 10 quilómetros da estrada AH83 na direção nordeste ou, faça um passeio junto às margens, com idêntica direção num dos vários barcos de recreio, abundantes no porto lacustre da antiga ilhota transformada em península por causa da baixa do nível de água, desviada em grandes quantidades para a agricultura, verá erguer-se, num pequeno e recatado promontório, uma escultura feminina, em bronze, erguendo nas mãos… uma lamparina. O propósito deste relato advém do facto de, apesar da sua paixão, Tamar, ou Akhtamar, como ficou para a história, depois do natural desgosto, ter voltado a enamorar-se já que os registos genealógicos a dão como uma ascendente direta da famosa princesa arménia, Joana Ardsruni, de Vaspuracânia que, alguns séculos depois, na viragem do primeiro milénio acompanharia o seu pai, em peregrinação a Santiago de Compostela e… enamorando- -se, em Castro de Avelãs, por D. Mendo, o primeiro braganção, com ele fundaria os alicerces da Casa de Bragança. Em 1025, mais ano, menos ano (os registos conhecidos não são taxativos), nos domínios da medieva Benquerença, em pleno noroeste peninsular, nasceu Ouroana Mendes, filha de Mendo e Joana, descendente de Akhtamar. Leonesa ainda, contaria, na sua descendência, com muitos bravos cavaleiros que, imbuídos já do espírito lusitano, sob a liderança de Afonso Henriques, juntamente com vários e valorosos nobres portucalenses, haveriam de andar a filhar Portugal. A passagem do milénio do seu nascimento irá ser celebrada no dia 16 de maio, em Castro de Avelãs com o apoio da Junta de Freguesia, com o apoio da Câmara Municipal de Bragança, com a apresentação do livro A Princesa Arménia de Bragança, da Âncora Editora.