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Entre a incerteza dos campos e a certeza do valor humano

Ter, 13/05/2025 - 10:50


Se há coisa que as últimas semanas têm revelado é que o Interior, apesar da sua resiliência, continua exposto às incertezas do clima e à falta de reconhecimento institucional. Esta edição do Jornal Nordeste chama à capa a preocupação crescente com a campanha da cereja, afetada por condições meteorológicas adversas.

A cereja, que é um dos produtos rei do Nordeste Transmontano, volta a enfrentar uma campanha difícil. A chuva persistente, num período crítico de maturação, está a comprometer a qualidade do fruto e a reduzir drasticamente a produção. Produtores experientes, como António Vila Franca, Luciano Silva e Beatriz Reis, falam em quebras acentuadas, frutos a rachar nas árvores e um atraso significativo na colheita. O cenário, que se repete há vários anos, deixa em suspenso o futuro de uma cultura que exige cada vez mais investimento, tratamentos preventivos e mão-de-obra, cada vez mais escassa nestes territórios despovoados.

Esta instabilidade, agravada por fenómenos climáticos imprevisíveis, está a tornar inviável uma atividade que já vive com margens apertadas e riscos elevados. Os pequenos produtores, que são o coração da nossa economia agrícola, continuam a trabalhar quase sozinhos, sem garantias de sustentabilidade, com custos crescentes e a braços com uma fileira que ainda não tem a proteção da certificação IGP, cujo processo tarda em concretizar-se. É urgente olhar para estas produções com olhos de futuro, e isso exige medidas concretas, incentivos reais e uma política agrícola que defenda, com seriedade, o que ainda resta da agricultura de montanha.

Mas se por um lado a cereja amarga, por outro, há iniciativas que adoçam a alma. As primeiras Olimpíadas da Matemática Adaptada, promovidas pelo Centro de Educação Especial (CEE) de Bragança, juntaram 56 utentes de 16 instituições e mostraram como a matemática pode ser motor de inclusão, convivência e valorização das capacidades de todos. Pessoas com deficiência e idosos participaram com entusiasmo, mostrando rapidez de raciocínio, alegria de viver e vontade de aprender. Provas simples, mas cheias de simbolismo, que demonstram que estas populações, tantas vezes esquecidas, têm muito a ensinar. Iniciativas como esta são um exemplo do que deve ser a missão social das instituições: sair de portas, cooperar, derrubar barreiras e promover o bem-estar e a autoestima dos seus utentes. Como bem defendeu a diretora do CEE, quando o setor social se une, ninguém perde, todos ganham, sobretudo aqueles que mais precisam de oportunidades para mostrar o seu valor.

Por isso, este jornal não pode deixar de enaltecer quem, no meio das dificuldades, ainda tem forças para inovar, acolher e resistir. Porque resistir no Interior é isto mesmo, lutar contra o clima, contra a indiferença e contra o esquecimento e, ainda assim, continuar a construir caminhos de esperança.

Cátia Barreira, Diretora de Informação