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Na região ganha a abstenção

Ter, 20/05/2025 - 11:56


As eleições legislativas marcam uma viragem decisiva na política nacional e deixam vários sinais claros, quer para os líderes partidários, quer para o povo português e, mais concretamente, para os cidadãos deste interior que, como Bragança, continua a escrever páginas distintas na história democrática do país.

Acordámos com um país politicamente diferente, mas com o mesmo governo. Era expectável o crescimento da Aliança Democrática, e assim se confirmou. A vitória da direita tradicional resulta, não só do desgaste do PS no poder, mas também da incapacidade do partido em se renovar com credibilidade. A escolha de Pedro Nuno Santos como secretário-geral foi um erro de leitura política, uma aposta arriscada que rapidamente se revelou falhada.

A grande derrota da noite foi, no entanto, da esquerda como um todo. Um colapso. O Bloco de Esquerda esteve por um fio de desaparecer do Parlamento, o que deveria bastar para a sua líder, Mariana Mortágua, fazer o mesmo que Pedro Nuno Santos e demitir-se. Mas já se previa que não o fizesse. O que pensam realmente os militantes sobre esta liderança?

Surpreende que a CDU tenha perdido apenas um deputado. As sondagens apontavam para um cenário ainda mais negro, mas parece que alguma base de apoio fiel ainda resiste. O PAN sobrevive. O partido tem mais a ganhar se se assumir como uma força de equilíbrio, capaz de negociar com ambos os lados do espectro político e deixar de ser refém da esquerda.

O Livre é, neste panorama sombrio da esquerda, a única exceção. Cresce, fruto de uma estratégia clara e de um discurso que sabe captar os jovens e os moderados.

À direita, o CHEGA cresce de forma estonteante. Mas Bragança volta a fazer história ao ser o único distrito a resistir à eleição de deputados deste partido. Esta resistência talvez indique que somos um povo de valores democráticos firmes, que não se deixa levar por populismos, nem por promessas de força que nada resolvem. Por outro lado, pode significar que os mais de 47% que se abstiveram, e nem sequer se deram ao “trabalho” de exercer o seu direito, alterariam esse resultado. Ficará a dúvida no ar!

A Iniciativa Liberal teve o melhor resultado de sempre e, no nosso distrito, passou de sexta para quarta força política. Uma mudança evidente, reveladora de que existe um eleitorado jovem e urbano a emergir, mesmo no interior.

O Juntos Pelo Povo (JPP) confirmou o que se previa e elegeu um deputado. E o caso do ADN continua a ser insólito: confundido com a AD em muitas freguesias, nomeadamente nas mais rurais, o que denuncia a necessidade urgente de mais literacia política.

Por fim, há uma mudança estrutural que não pode ser ignorada e esta é, na minha humilde opinião, a grande reflexão que se impõe depois disto tudo, a nova composição parlamentar permite que uma revisão constitucional possa ser feita apenas pela direita, sem necessidade de diálogo com a esquerda, sem qualquer aliança entre as forças de esquerda e direita. Esta possibilidade exige vigilância. A Constituição é a base da nossa democracia e não pode ser usada como arma de vigança ideológica.

Cabe-nos a todos, imprensa incluída, continuar a ser a garantia do equilíbrio democrático. O país mudou, agora veremos que uso fará da sua nova maioria direita e quando tempo perdurará estável.

Cátia Barreira, Diretora de Informação