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A agricultura resiste, mas pede socorro

Ter, 27/05/2025 - 10:18


O Nordeste Transmontano tem, ao longo da sua história, firmado a sua identidade na relação íntima com a terra. A agricultura é mais do que uma atividade económica: é cultura, é tradição, é sustento. Mas os sinais dos tempos mostram-nos que esta ligação, por mais resistente que seja, está a ser posta à prova como nunca.

Esta semana, damos destaque a dois temas que simbolizam bem os contrastes e as dificuldades que o setor agrícola enfrenta na nossa região. Por um lado, o ressurgimento severo da praga da vespa da galha do castanheiro, com níveis de ataque preocupantes nos concelhos de Bragança e Vinhais, que ameaça novamente a produção de castanha, um dos ex-libris transmontanos. Por outro, o testemunho direto de agricultores que, apesar do investimento, do saber acumulado e da dedicação, se veem vulneráveis às flutuações de mercado, às alterações climáticas e à falta de respostas estruturais.

A castanha, símbolo do outono transmontano, está a enfrentar mais um teste difícil. Após dois anos de controlo efetivo, a vespa da galha regressa com intensidade inesperada. O caso de Carragosa e Parâmio revela isso mesmo, até 70% dos gomos atacados e perdas que podem chegar aos 50%. O fenómeno climático que está a afetar o ciclo de vida do parasitoide, essencial ao controlo natural da praga, mostra bem como a natureza, cada vez mais imprevisível, desafia o conhecimento técnico. O esforço dos investigadores e do Centro de Competências dos Frutos Secos deve ser reconhecido, mas é fundamental reforçar os apoios no terreno e adaptar as estratégias com rapidez.

Paralelamente, a agricultura em Bragança resiste com diversidade: o olival, a amêndoa, a vinha, a pecuária e até a apicultura e horticultura mantêm-se vivas. Mas os testemunhos de quem vive da terra deixam um alerta claro: o setor é instável, os preços oscilam ao sabor dos mercados externos, com destaque para a dependência em relação a Espanha e o desânimo alastra. O azeite, por exemplo, tem sofrido quebras abruptas de preço, desincentivando quem tanto investiu. A vinha é tratada por paixão, não por lucro. E na pecuária, apesar do preço atrativo, há cada vez menos produtores.

A desertificação humana e agrícola é um dos maiores perigos que enfrentamos. É urgente criar condições para fixar jovens agricultores, valorizar o produto local com políticas de proximidade e garantir que quem produz tenha segurança, apoio técnico, incentivo à inovação e escoamento justo da sua produção. A agricultura precisa de ser tratada com visão estratégica, e não apenas como romantismo rural.

Apesar das adversidades, a agricultura continua viva em Bragança, viva pela força de quem resiste, planta, colhe e acredita. Mas essa vitalidade só se manterá se houver um compromisso coletivo: do poder político, das instituições e da sociedade, em reconhecer e apoiar este setor vital que, dia após dia, alimenta as nossas mesas e sustenta a nossa identidade.

Cátia Barreira, Diretora de Informação