Qua, 11/06/2025 - 10:56
A oliveira é mais do que uma árvore em Trás-os-Montes. Representa um símbolo de resiliência, de história e de economia. A paisagem ondulada da nossa região está pintada por olivais que, geração após geração, sustentam famílias, enchem lagares e dão ao mundo o sabor único do azeite transmontano. No entanto, esta cultura que nos é tão identitária enfrenta, hoje, desafios imensos que obrigam a uma reflexão séria sobre o presente e, sobretudo, sobre o futuro.
O calor inesperado e intenso que marcou o final de maio deixou marcas visíveis em algumas zonas do distrito. A floração das oliveiras foi abruptamente interrompida em certas parcelas da Terra Quente, secando as flores.
Ainda assim, os agricultores mantêm a serenidade, lembrando que apenas uma pequena percentagem dessas flores daria fruto. O balanço, como sempre, só poderá ser feito mais adiante, quando a colheita estiver à vista. O que está em causa não é só o impacto imediato, mas a constatação de que fenómenos meteorológicos extremos estão a tornar-se cada vez mais comuns. E não existe, ainda, uma estratégia adequada para lhes responder.
A incerteza climática exige novas soluções. Os atuais seguros agrícolas são, nas palavras dos produtores, manifestamente insuficientes. Não cobrem todo o ciclo da cultura, deixando de fora precisamente o momento mais frágil, a floração. Como pode um agricultor investir com confiança se sabe que, perante um fenómeno climático como o de maio, não terá qualquer proteção? A reformulação do sistema de seguros agrícolas deve ser encarada como uma urgência nacional e comunitária.
Do lado dos mercados, a situação não é menos preocupante. Os produtores enfrentam uma descida do preço do azeite, motivada em grande parte pela entrada massiva de azeite importado no país.
Quando o custo de venda se aproxima do custo de produção, ou pior, o ultrapassa, a sustentabilidade das explorações está em risco. E se a atividade deixa de ser rentável, o risco de abandono do olival e da agricultura cresce. É neste ponto que as políticas públicas devem intervir. Mais do que subsídios pontuais, os agricultores precisam de instrumentos eficazes de regulação do mercado, que evitem a especulação e garantam um preço justo ao longo de toda a cadeia.
A nível internacional, as previsões apontam para uma intensificação do investimento no setor olivícola, com recurso a novas tecnologias e práticas mais sustentáveis.
A olivicultura de precisão, a adaptação varie tal às alterações climáticas e a certificação de origem são caminhos já trilhados noutros países com bons resultados. Também por cá há quem invista com visão e ambição, mas continua a faltar uma estratégia nacional que valorize o azeite como produto estratégico, cultural e económico. Importa também mudar o discurso. O preço não deve ser o único fator de avaliação.
O azeite representa saúde, tradição e território. O consumidor deve ser chamado
a compreender que, ao e colher um azeite português, está a investir na sua saúde e no desenvolvimento do país.
Trás-os-Montes tem condições únicas para continuar a afirmar o seu azeite como um dos melhores do mundo. Só que o azeite não nasce ape- nas do sol e da terra. Nasce também da coragem de quem resiste, ano após ano, à incerteza.
Cátia Barreira, Diretora de Informação