Ter, 01/07/2025 - 11:24
Em Trás-os-Montes, há sinais claros de transformação. A região, durante muito tempo afastada das principais rotas turísticas, começa a ganhar espaço e atenção. Este crescimento não surge do acaso. É o resultado direto do trabalho e da iniciativa de quem, mesmo com poucos recursos, decidiu investir nas potencialidades do território.
Os dados não enganam: Bragança já ultrapassou os números de 2019, com crescimento acima do 15% em hóspedes e perto de 23% nas dormidas. A região está a conquistar turistas, nacionais e estrangeiros, seduzidos pela autenticidade da paisagem, pela singularidade da cultura e pela qualidade humana de quem aqui os recebe. O turista do pós-pandemia mudou. Quer sossego, quer verdade, quer experiências. E Trás-os-Montes tem tudo isso, sem precisar de se reinventar, apenas de se afirmar.
É precisamente neste contexto que iniciativas como a do “Crinas ao Vento”, em Carrazedo, ou da “Aventura Norte”, em Bragança, cujos proprietários dão o seu testemunho na reportagem que faz a manchete desta semana, ganham especial destaque. São projetos que nascem da paixão, que crescem com o esforço e que se tornam motores de desenvolvimento local. Oferecem mais do que passeios a cavalo ou trilhos de jipe. Oferecem memórias, conexão com a terra, reencontros com a natureza e com o que temos de mais puro. Como estes projetos há muitos outros, uns que já demos a conhecer noutras reportagens e outros que estão ainda por explorar, e merecem igual importância.
Sofia Pires e Carlos Costa entenderam que uma aldeia com rota de borboletas podia ter muito mais para oferecer. Apostaram, investiram e hoje atraem pessoas de todo o país e do estrangeiro, revitalizando casas, ideias e sonhos. A mesma motivação move Nélio Fraga, que mostra a fauna e flora da região com olhos de quem conhece cada recanto como quem volta a casa. E também a família Van Der Vliet, que trocou as paisagens da Escócia pela alma de Montesinho, criando um projeto onde o descanso, a arte, o convívio e o turismo sustentável se cruzam com naturalidade.
De salientar, que estão a nascer novas zonas de atração turística como, por exemplo, a Foz do Sabor e os Lagos do Sabor que abrem espaço a empreendimentos que são investimentos significativos e com bastante potencial.
Estes exemplos demonstram que o turismo, quando bem orientado e respeitador da identidade local, pode ser um verdadeiro motor de transformação. Um turismo que não vive apenas da procura, mas que cria oferta com autenticidade. Que não destrói o que encontra, mas valoriza e reinterpreta. Um turismo que enriquece as aldeias, em vez de as descaracterizar.
No entanto, como referem os protagonistas destas histórias, faltam apoios, faltam incentivos, falta reconhecimento público e institucional. Se queremos, de facto, um turismo sustentável e regenerador, não podemos deixar que o esforço de uns poucos seja solitário.
Importa agora criar uma rede de oportunidades, divulgar mais, investir melhor. Porque quando o turismo nasce da alma do território e se faz com o saber da sua gente, os resultados não se medem apenas em números, mas em vidas que mudam. Trás-os-Montes não precisa de ser reinventado. Precisa de ser vivido, visitado.
Cátia Barreira, Diretora de Informação