Ter, 15/07/2025 - 11:25
O número de eleitores no distrito de Bragança voltou a cair. Desde 2021, desapareceram quase seis mil nomes dos cadernos eleitorais. Não se trata apenas de estatísticas. Trata-se de gente que parte, de votos que se calam e de territórios que se esvaziam. É um retrato duro, mas real, que exige reflexão e, acima de tudo, ação.
A três meses das eleições autárquicas, os dados divulgados pela Administração Eleitoral não deixam margem para dúvidas: o distrito perdeu 5.800 eleitores em apenas quatro anos. Desde 2017, a quebra acumulada aproxima-se dos 13 mil. É um fenómeno transversal, mas com maior incidência nos concelhos mais pequenos, como Freixo de Espada à Cinta, Alfândega da Fé e Vinhais, que apresentam reduções acima dos 8%. Bragança, apesar de tudo, é o concelho com menor quebra (apenas 1%), mas nem isso pode ser considerado um sinal de alívio.
Esta quebra não significa apenas menos pessoas a votar. Significa menos gente a viver, a trabalhar, a investir e a sonhar neste território. A redução de eleitores é o reflexo de uma emigração persistente, de um envelhecimento estrutural e da dificuldade em fixar jovens. É também o espelho de políticas públicas que, apesar de tantos discursos e promessas, continuam a não conseguir inverter a tendência.
O processo democrático assenta na participação dos cidadãos. Quando o número de eleitores diminui, não está só em causa a representatividade dos eleitos, está em risco a vitalidade da própria democracia local. O esvaziamento eleitoral é irmão do esvaziamento territorial. Com menos recenseados, os concelhos perdem força política, peso institucional e acesso a recursos. E com isso, perdem também a capacidade de reivindicar futuro. Um futuro que se constrói no presente, com decisões políticas acertadas e estratégias de desenvolvimento local integradas e sustentáveis.
A resposta não pode continuar a ser feita apenas de palavras. É urgente passar das intenções aos atos. O Estado central precisa de reconhecer o desequilíbrio territorial como uma emergência nacional. Mas também as autarquias têm de assumir um papel mais dinâmico, mais inovador e menos conformado. Criar condições para atrair e fixar pessoas, sobretudo os mais jovens, não é uma missão impossível, mas exige planeamento, coragem e vontade política. E também compromisso de longo prazo, para que os resultados possam ser visíveis e duradouros.
Este território precisa de mais do que lamentações. Precisa de coragem. E de exemplos. Felizmente, também eles existem. E merecem destaque. Nesta edição, damos voz a um desses exemplos.
Marco Louçano, brigantino de 46 anos, treinador de futebol, aceitou recentemente um desafio que poucos se atreveriam a abraçar: ser treinador-adjunto num dos maiores clubes da Jordânia, em plena tensão no Médio Oriente. Não o moveu apenas o aspeto financeiro, mas também a ambição de viver uma nova cultura e o desejo de crescer. Mesmo com o som de bombas a ecoar nas redondezas, manteve-se sereno e determinado. Leva consigo, além da mala e do currículo, o nome de Bragança.
Histórias como a de Marco Louçano são essenciais porque nos lembram que, apesar de tantos partirem, há sempre quem leve consigo a força da terra. E que, mesmo longe, continua a fazer-nos sentir orgulhosamente próximos. Esperemos que volte e que com ele traga novas perspectivas e novas pessoas!
Cátia Barreira, Diretora de Informação