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Esquerda, direita, um, dois...

Não sou especialista em Educação, como facilmente se constatará. Tenho-me, ainda assim, à semelhança de muitos meus contemporâneos, como cidadão digno e homem bem-educado, graças aos educadores que tive nas escolas oficiais por onde passei, mas também aos abençoados exemplos, palavras sensatas e amorosas nalgadas que recebi em criança, vindas, sobretudo, de minha santa mãe.

Não pretendo com isto dizer que no meu tempo é que era bom, mas tão somente referir que acompanhei, ainda que displicentemente, a recente discussão sobre educação sexual ou cidadania, há que esclarecer.

Discussão que não poderá ser classificada de pública porque, lamentavelmente, se confinou à Assembleia da República, sendo meu entendimento que o debate, como muitos outros, deveria ter extravasado o Parlamento e os partidos, dada a importância social e reformadora de que se reveste.

Certo é que a comunicação social, por razões que não ignoro por completo, mas que não estou para aqui esmiuçar, amplificou o ruído parlamentar, sem aclarar as matérias em causa, aprofundando a confusão que reina nas mentes das cidadãs e dos cidadãos comuns, nos quais humildemente me incluo.

Cidadãos a quem, sobre este como sobre assuntos equiparados, deveriam ser fornecidos dados relevantes, tais como idades, tempos, métodos e espaços de aplicação, o que é normalmente omitido.

Certo é que a opinião pública  o que é para lamentar, dado o interesse nacional da temática continua a desconhecer o que entendem os decisores políticos por Educação Sexual e em que âmbito a incluem: se no da Cidadania, se no da Moral, se no da Saúde, da Socialização, da Higiene pública, ou meramente no campo da moda, usos e costumes.

E qual o objetivo último que lhe dão: se formar pessoas saudáveis de corpo e mente ou transformar radicalmente o ser humano, viciando a cósmica Criação.

Tampouco, sequer, saber se preconizam apenas aulas teóricas ainda que digitais ou produzidas por inteligência artificial ou também aulas práticas, podendo estas ser escrupulosamente púdicas ou, pelo contrário, promotoras de pornografia e promiscuidade.

Ainda mais: sobre que grupos etários incidem as matérias em apreço? Se desde logo no dos meninos e meninas dos infantários, ou se poderá ir até aos candidatos às universidades e por que não?

E será que da matéria constam apenas designativos anatómicos adequados, ou também expressões de puro calão? E será que também trata de conceitos elevados como o amor-próprio, o amor erótico, o amor à pátria e ao próximo, de ágape, ou mesmo de knosis, como São Paulo a definiu?

Knosis que ensina que o amor se dá sem esperar nada em troca contrariamente ao povo que diz que amor com amor se paga.

Será que desta discussão saiu alguma luz ou mais se adensou a escuridão sobre a democracia em crise, em que tudo é demarcado e rotulado de esquerda ou de direita, precisamente para aumentar a confusão e fomentar ódios e confrontos públicos violentos?

Clivagem esquerda/direita que materializa um dos maiores perigos internos da democracia atual, ainda que não lhe esteja na massa do sangue ou faça parte do seu ADN, como muitos pretendem, para lá da corrupção e das ameaças externas que, segundo se diz, vêm lá das bandas da Rússia, da China e do Irão.

É que cada vez mais se assiste ao embrutecimento dos cidadãos, agrupando-os em partidos, chamados a votar e a assumir posições emocionalmente, facciosamente, fanaticamente, com os espíritos afogados em fake news, o que leva a que se convertam criminosos em heróis, se sacrifiquem cidadãos honrados e se eternizem incompetentes e corruptos no poder.

Quando tudo deveria ir num sentido de elevação, da clarificação de ideias, conceitos e práticas na educação como em muitos outros sectores nunca reduzindo o debate político a cegos argumentos típicos de esquerda ou de direita.

Pessoalmente, abomino esta ideia e prática que muito empobrece e desacredita a política, a democracia, os partidos e os próprios cidadãos.

Como exponho no despretensioso poema que se apresenta de seguida:


Esquerda, direita, um, dois…
Eu…?!

Não sou de esquerda nem de direita
nem do centro
sou do alto
transparente
independente
sou vertical
mais do bem que do mal

Tenho braço esquerdo e braço direito
mão esquerda e mão direita
não sou dextro
não sou esquerdino
sou destro desde menino!

Tenho perna direita e perna esquerda
pé direito e pé esquerdo
só com ambos sei caminhar
e muito melhor bailar

Olho esquerdo e olho direito
ouvido esquerdo e ouvido direito
para melhor ver e melhor ouvir
uma só boca para bem falar

Dois hemisférios tem o meu cérebro
não sou lerdo
só com os dois sei reflectir
a Razão formatar

Não tenho partido
nem ando perdido
não rastejo, caminho de pé
verdade, liberdade e poesia
são a minha ideologia
tenho a minha própria Fé
o bem-estar a todos desejo

Sou um único ser
um só coração a pulsar
um todo a viver
a gozar
a sentir
a sofrer
e a
amar

Henrique Pedro