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Bragança escolheu mudar

Qui, 16/10/2025 - 09:51


Há momentos em que a vontade de um povo marca um ponto de viragem na história de uma terra. As eleições autárquicas de domingo ficam inscritas na história de Bragança como uma dessas raras ocasiões em que a vontade popular rompeu com o hábito e com o peso do passado.

Isabel Ferreira, candidata apoiada pelo Partido Socialista, pôs fim a 28 anos de governação social-democrata e tornou-se a primeira mulher a assumir a presidência da Câmara Municipal da capital de distrito.

O contraste entre 2021 e 2025 é revelador. Há quatro anos, o PSD dominava por completo, câmara, assembleia municipal e as 39 juntas de freguesia. Hoje, o mapa político mostra fissuras. Cinco freguesias passaram para o PS e a votação para a câmara revela uma vontade transversal de mudança. A vitória na União das Freguesias de Sé, Santa Maria e Meixedo foi o epicentro dessa viragem, sinalizando que a capital quis, de forma inequívoca, um novo rumo.

Mais do que uma mudança de cor política, este resultado simboliza um novo ciclo de confiança. Ao longo de quase três décadas, o PSD construiu um percurso de estabilidade e de desenvolvimento que deixou as suas marcas no concelho. Mas a democracia vive de renovação e de alternância e foi isso que os brigantinos expressaram nas urnas, a vontade de abrir um novo capítulo, com novas ideias e uma energia diferente.

Isabel Ferreira chega à presidência com um currículo notável, investigadora, docente e antiga governante, e com uma equipa que procurou integrar cidadãos de várias áreas da sociedade civil. A sua campanha foi feita de proximidade e escuta, de ruas percorridas e de conversas francas com empresários, associações e habitantes. Essa capacidade de ouvir e unir parece ter sido determinante para conquistar a confiança de mais de metade dos eleitores.

Num concelho que conserva um espírito simultaneamente tradicional e resiliente, a eleição de uma mulher para o mais alto cargo autárquico tem também um valor simbólico profundo. Representa uma abertura e uma maturidade cívica que honram Bragança e o seu eleitorado.

O desafio que se coloca agora é claro, governar para todos, com serenidade, respeito, sensibilidade e inovação. Isabel Ferreira herda um concelho com bases sólidas, mas com ambições legítimas, nalguns casos gritantes, de modernização e de afirmação regional. Cabe-lhe, agora, transformar a esperança da mudança num projeto concreto de futuro, capaz de reforçar a coesão, atrair talento e valorizar o interior.

Bragança não elegeu apenas uma presidente. Elegeu um sinal de esperança, uma promessa de que o interior pode reinventar-se pela mão de quem o conhece e acredita nele. Num tempo em que a política é tantas vezes feita de desilusão e ruído, Isabel Ferreira quis trazer à cena pública uma ideia simples e poderosa, a de que o progresso nasce da escuta e do compromisso com o bem comum.

Bragança deu um sinal de maturidade democrática. O que se espera, daqui em diante, é que este novo tempo seja vivido com diálogo, respeito e sentido de missão.

 

Carina Alves, Diretora de Informação.