Água divide população e deputado

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Ter, 09/08/2005 - 15:52


A população de Grandais, mesmo às portas de Bragança, está cansada dos cortes de água na aldeia, que são feitos duas vezes por dia.

Segundo um grupo de populares, a água nunca faltou na localidade, mas os excessos de consumo têm contribuído para “secar” o depósito que serve Grandais, que leva 80 mil litros.
Habitantes ouvidos pelo Jornal NORDESTE atribuem parte das culpas ao deputado do PSD, Adão Silva, que mora na aldeia há algumas semanas, numa residência à face da EN 103. A habitação está equipada com piscina e rodeada de jardins com árvores, mas não dispõe de poço com água.
O parlamentar, contudo, rejeita as acusações, embora reconheça que, em Maio passado, encheu a piscina com água da rede pública, “tal como fazem muitas outras pessoas que têm piscina na cidade”, recorda.
Quanto à rega dos jardins e árvores, Adão Silva desfaz as dúvidas, alegando que vai buscar água a uma nascente duma propriedade de família, situada a 700 metros da sua residência. “A água vem para a minha casa por gravidade, em tubos de polegada e meia, e com um caudal mais do que suficiente para regar os jardins”, assegura o responsável.

Junta confirma acusações

Segundo o parlamentar laranja, o enchimento da piscina só não foi feito com água desta nascente, devido à acumulação de algas e outros resíduos. De qualquer forma, acrescenta, “a piscina enche-se uma vez e mantém-se durante vários meses, fruto do tratamento da água”, explica o deputado.
Os populares sabem que Adão Silva recorre à água de nascente para suprir algumas necessidades, até porque os canos da captação atravessam alguns lameiros, mas insistem que, desde que o dirigente social-democrata começou a morar na aldeia, a falta de água agravou-se.
O vogal da Junta de Freguesia de Castro de Avelãs, José Vicente, confirma esta situação, mas garante que o deputado não é o único culpado da situação. “De facto, desde que ele veio para cá morar, a situação complicou-se, mas há muita gente a abusar da água para regar e não se pode acusar só uma pessoa”, revela o responsável.
Para evitar desperdícios, “já falei com uma familiar de Adão Silva, assim como tenho falado com toda a população”, ressalva José Vicente.

Depósito era suficiente

Na óptica do autarca, o depósito de Grandais sempre conseguiu dar resposta às necessidades, mas o consumo é de tal forma elevado que o vogal é obrigado a cortar a água duas vezes ao dia. Ou seja, a torneira é aberta às 7:30 horas e é fechada às 12 horas, para reabrir, apenas, às 19:30. Depois é fechada, novamente, às 22 horas e só reabre no dia seguinte.
A abertura e fecho do depósito são assegurados por José Vicente, que se mostra cansado com as quatro deslocações diárias à nascente. “Se as pessoas não gastassem tanto, não havia necessidade disto, porque o depósito leva muita água”, desabafa o vogal da Junta.
O Jornal NORDESTE esteve em Grandais na passada sexta-feira e constatou que não corria água das torneiras dos tanques da aldeia. No outro lado da EN 103, porém, uma mulher regava o jardim da residência de Adão Silva, pelo que a água que jorrava da mangueira não era, seguramente, da rede pública.
Para o parlamentar, esta é a prova evidente de que não abusa da água do depósito de Grandais, apesar deste bem ser gratuito, tal como na maioria das aldeias do concelho.