Carne mirandesa em risco

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Qua, 17/08/2005 - 16:09


A feira anual de São Lourenço, em Vimioso, foi data escolhida para a realização do maior concurso concelhio de raça bovina mirandesa, alguma vez realizado na área do Solar da Mirandesa.

O concurso, realizado na passada quarta-feira, contou com a presença de mais de 90 animais concorrentes, repartidos por várias secções.
Durante o certame, a seca foi um dos principais temas das conversas dos agricultores, que sentem cada vez mais dificuldades para alimentarem os seus animais.
Nesta altura as pastagens estão secas, o que dificulta a vida aos produtores que têm muitas cabeça de gado para sustentar. “Temos que recorrer a concentrados que a Associação de Produtores está a fabricar”, afirmou Vítor Miranda, um produtor de Serapicos.
A água para dar de beber aos animais começa a escassear e os agricultores socorrem-se dos rios e ribeiros da região que ainda têm reservatórios deste líquido tão precioso. Para além disso, também há produtores que transportam a água para as suas explorações através de cisternas e outros são mesmo obrigados a fazer furos artesianos.

Rações substituem forragens

Outro dos problemas prende-se com os apoios concedidos pelo Estado. Há produtores que ameaçam suspender a criação de animais se, a curto prazo, não forem cumpridos os contratos programa das mediadas do programa “Agris”, já que se trata de uma raça autóctone que está à beira da extinção.
Para já, alguns criadores começam a gastar os stocks de alimentos, como é o caso das aveias, para dar de comer aos animais, uma situação que só deveria acontecer no Inverno.
Para superar este problema, a Associação de Produtores de Raça Bovina Mirandesa já tem em funcionamento, há cerca de quatro meses, uma fábrica de concentrados para animais, para ajudar a superar a falta de alimentos gerada pela seca.
Segundo o secretário técnico da APRBM, Fernando Sousa, estes concentrados, confeccionados à base de trigo, são um complemento para colmatar a falta de pastagens.
No entanto, a associação é, igualmente, candidata a uma parte de uma importação de trigo que vai chegar da Hungria, para conseguir satisfazer as necessidades dos seus associados. “ Para já, reunimos condições para o efeito e já comunicamos a intenção ao INGA, visto que só desta forma podemos continuar a fabricar alimentos”, acrescentou o responsável.
Os cereais que o agricultor colhe não são suficientes para manter os animais, visto que têm de ser mais elaborados e equilibrados.