Castanheiros resistem ao cancro

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Ter, 27/09/2005 - 16:52


Há castanheiros que estão a desenvolver uma forma de resistência à doença do cancro. Este fenómeno já foi registado por alguns agricultores nos concelhos de Vinhais e Valpaços, que têm esperança de conseguir combater esta doença, responsável pela morte de milhares de castanheiros.

Na aldeia de Edral, no concelho de Vinhais, alguns agricultores já tinham abandonado alguns soutos, dado que a rápida propagação do cancro contaminou grande parte das árvores. Com o passar do tempo, alguns castanheiros começaram a recuperar, o que levou alguns técnicos agrícolas a analisarem a origem daquele fenómeno.
Na óptica de António Reis, um agricultor de Edral, esta cura é um verdadeiro “milagre” para os homens da lavoura, visto que já não conseguiam travar a propagação do cancro do castanheiro.
“Esta doença alastra muito rapidamente por via aérea. Nos meus terrenos já tinha mais de 50 castanheiros afectados que acabei por abandonar, uma vez que já tinham sinais que iam secar. Nos últimos tempos começaram a recuperar, o que tem dado força aos agricultores para continuarem a apostar na produção de castanha”, salientou António Reis.

Árvores doentes recuperam

A recuperação de castanheiros também já foi detectada na zona da Padrela, no concelho de Valpaços, onde a doença do cancro já tinha contaminado cerca de 50 por cento das árvores.
Dado que cerca de 90 por cento das pessoas que vivem naquela zona transmontana vive da produção de castanha, a doença provocou uma elevada quebra na produção e, ao mesmo tempo, o desânimo dos agricultores.
Segundo Flávio Batista, um dos maiores produtores de castanha da zona da Padrela, desde que a doença do cancro tomou conta dos castanheiros, a sua produção caiu para metade. Por isso, considera que a recuperação destas árvores de fruto é uma mais valia para a agricultura da região.
“Alguns agricultores já tinham abandonado as suas produções, visto que através do sulfato de cobre não conseguiam travar a doença. Agora, que os castanheiros começam a recuperar, algumas pessoas já retomaram o cultivo dos soutos”, realça Flávio Batista.

Agricultores retomam cultivo

De acordo com os homens da lavoura, os castanheiros que estão a criar resistência ao cancro são aqueles que já tinham sido abandonados e não estavam a ser sujeitos a qualquer tipo de tratamento, o que aponta para uma resistência fisiológica da árvore ou para um “fungo hipovirolento”.
Segundo Armando Bento, engenheiro agrário da Monteval, este é um fenómeno de resistência que não se sabe as proporções que vai tomar, uma vez que foi verificado, apenas, em algumas árvores.
Este responsável conta que já tinha identificado este fenómeno nalguns castanheiros na zona de Edral e da Padrela durante o ano passado, pelo que alertou os agricultores para voltarem a cultivar os soutos que tinham abandonado.
Em alguns países da Europa, nomeadamente em Itália, França e Espanha o fenómeno de resistência dos castanheiros está a ser estudado por vários investigadores. Em Portugal, este fenómeno ainda se encontra numa fase de ensaio.

Técnicos aconselham
prudência

A extensão territorial e temporal deste fenómeno ainda não está definida, visto que ainda não existem dados que permitam delinear a dimensão deste acontecimento natural.
Os técnicos da Direcção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes (DRATM) já recolheram amostras nos concelhos de Valpaços e de Bragança, para analisarem se este fenómeno representa a cura do cancro do castanheiro.
No entanto, a prudência é o lema dos técnicos da DRATM, que aconselham os agricultores a continuarem o tratamento com sulfato de cobre.
A técnica da DRATM, Dulce Anastácio, realça que a cura tem uma propagação mais difícil do que a doença, pelo que é necessário fazer um acompanhamento da evolução deste fenómeno de resistência.
Para já, os homens da lavoura têm esperança que este fenómeno se propague rapidamente, para poderem aumentar a produção de castanha.