Contos e Lendas de Bragança e Vinhais reunidas em livro

PUB.

Qua, 23/12/2020 - 11:08


Mais de seis dezenas de contos e lendas de Bragança e Vinhais foram reunidos e estão agora publicados em livro.

A edição “Contos e Lendas Transmontanos” em dois volumes foi apresentada nos agrupamentos de escolas dos dois concelhos e entregue às crianças. A iniciativa surgiu em 2017, quando Alex Rodrigues candidatou o projecto de recolha de lendas e contos ao Orçamento Participativo, que foi contemplado na área da cultura. O trabalho de resgatar e escrever histórias tradicionais de 65 freguesias dos concelhos de Bragança e Vinhais culminou na edição de dois volumes de “Contos e Lendas Transmontanos”, que tiveram também o contributo de 1200 crianças. Os alunos do agrupamento de Escolas Augusto Moreno, em Bragança, receberam no passado dia 16 de Dezembro, com entusiasmo, exemplares, para os quais fizeram, há dois anos, desenhos que inspiraram as ilustrações presentes no livro. “Desenhei um burro, aqui são ladrões a fugir, há um padre, aqui estão a montar um burro e aqui está um burro e uns homens”, conta Francisco Rocha, de 8 anos, ao segurar a ilustração que agora lhe foi restituída e de que já não se recordava. “Já não me lembrava bem, mas sei que a professora leu uma história e nós desenhamos”, afirma o aluno do terceiro ano, que diz estar com curiosidade para ler os dois livros que lhe ofereceram. “Eu gosto destas histórias que tenham a ver com as lendas de Bragança e de saber como era antigamente”, garante. Íris Borges gostou de recordar o desenho que tinha feito quando andava no primeiro ano. “Era sobre uma lenda da aldeia de Coelhoso”, que vai poder ler no livro. “Eu gosto de ler e destas histórias”, diz Iris. Alex Rodrigues explica que envolver as crianças foi um dos objectivos do projecto, até para que estas histórias continuem a ser propagadas. “Tiveram um papel importante porque contribuíram com um desenho que serviu de base para a ilustração final do livro. A ilustração também permitiu ter a percepção que cada criança teve sobre o conto trabalhado em sala de aula, para nós foi importante para perceber se a mensagem tinha passado ou não. É um legado que agora transita para as crianças e esperamos que elas disseminem essa informação e que o saber não se perca”, afirma o impulsionador do projecto. A preservação deste material é também outro dos propósitos até porque, em alguns casos, os últimos guardiões destas lendas e contos podem desaparecer. “Foi feito um trabalho preliminar com o apoio a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e da Academia Ibérica da Máscara, um processo de recolha, de narradores e de informação registada, no caso de Bragança, na obra do Abade de Baçal e de outras obras, deslocámo-nos também ao local”, afirmou. Num desses locais, em Parada encontraram “o senhor Eduardo, um narrador que nos contou a lenda da aldeia e que, entretanto, faleceu”, recorda Alex Rodrigues. Apesar da longa lista de contos e lendas incluídos sobre os nomes das aldeias, sobre santos e milagres, mouros ou caretos, mais material foi ainda recolhido como conta António Tiza, da Academia Ibérica da Máscara. “Foi, de facto, importante e aliciante para mim ter conversado com essa gente, que são contadores de histórias. Nem tudo está aqui, porque não podia. Este trabalho está recolhido para memória futura”, sublinha. Júlio Borges e Roberto Afonso, em Vinhais, e Alex Rodrigues e António Tiza, em Bragança, recolheram e escreveram as lendas destes concelhos, agora editadas no livro Contos e Lendas Transmontanos, em dois volumes. O trabalho de recolha e registo de parte do património cultural transmontano que foi coordenado pela Direcção Regional de Cultura do Norte. “Trata-se de pôr por escrito e de materializar património imaterial”, destaca João Silva, desta entidade que sublinha que “as histórias que as pessoas vão contando, e que se não tiverem um registo se vão perdendo ou alterando de forma irreparável, estão a ser transformadas em património que fica para hoje, para amanhã e para depois, para os meninos que participaram e para as famílias”. O responsável da DRCN admite que o trabalho deveria ser replicado noutros concelhos porque “este património ajuda a criar raízes e que os meninos se sintam mais apegados às suas terras”.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro