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Da Guiné Bissau a Portugal com o sonho de singrar no futebol

Ter, 08/12/2020 - 20:57


Chegou ao S.C. Mirandela referenciado e com veia goleadora. Kenedy Có fez formação no Nacional e Benfica. Estreou-se como sénior na equipa B do Sporting. Pelo meio há escolhas mal sucedidas mas, agora, parece ter encontrado o clube certo para mostrar todo o seu talento.

Kenedy Có é já uma referência no ataque do S.C. Mirandela. O ponta de lança, de apenas 22 anos, é o melhor marcador dos alvinegros com quatro golos em oito jornadas.

Uma carreira ainda curta, mas promissora, e que começou em criança na Guiné Bissau. Foi na rua que mostrou talento e faro para o golo e, isso, não passou despercebido. “Desde criança que sou um apaixonado pelo futebol. Comecei nos jogos de bairro na Guiné Bissau com os amigos. Entretanto, fui contactado por um associado do meu ex-empresário, Bruno Correia, que estava de visita a Bissau. Ele gostou muito de mim e tratou de tudo para me trazer para Portugal”, recordou Kenedy.

O jogador guineense trazia na mala o sonho de singrar no futebol e Portugal era a porta de entrada. A primeira paragem foi na Academia do Sporting “para um período de testes”, mas não foi desta que ficou. “Acabei por não ficar porque quando cheguei já estava a acabar a pré-época e já tinham o plantel definido”.

Kenedy perdia a primeira oportunidade de mostrar talento, mas não a vontade de continuar a lutar pelo objectivo que o tinha trazido ao nosso país. Surgiu, então, a oportunidade de integrar a Naval. Agarrou-a, pelo menos até tratar de questões burocráticas. “Fiquei por um largo período só a treinar pois estava a tratar da documentação e sem os documentos não podia jogar. Depois, mais tarde, mudei para o Nacional da Madeira e lá comecei a jogar nos juniores e a destacar-me nos jogos”, contou.

Na altura, na temporada 2016/2017, a equipa principal madeirense era treinada por Manuel Machado que não ficou indiferente ao talento do jovem ponta de lança. “Fui treinar várias vezes com a equipa principal e comecei a despertar o interesse de alguns clubes, entre eles o Benfica que acabou por garantir a minha contratação para a equipa dos juniores onde fui orientado pelo treinador João Tralhão”.

No entanto, a estadia no Seixal foi de pouca duração já que o Sporting tratou de contratar Kenedy. Foi para a equipa B leonina no seu primeiro ano como sénior e adaptação não foi das melhores. “Havia muita coisa que tinha de aprender. Passei de ponta lança no Benfica a extremo no Sporting. Tinha que aprender não só os aspectos de jogo mas também outros aspectos alheios a tua performance. No futebol profissional tens de saber que não basta só saber jogar para estar dentro de campo ou jogar todos os jogos, ainda mais num clube como o Sporting. Foi um ano de aprendizagem”, disse.

De leão ao peito realizou apenas nove jogos e decidiu ir experimentar outros campeonatos. Em 2018, Kenedy mudou-se para França para jogar no Pau FC, emblema que actualmente compete no segundo escalão do futebol francês. A adaptação à nova realidade não correu como esperado, mas contribuiu para o crescimento do jogador. “Tive muitos problemas de adaptação, mas também evoluí muito enquanto pessoa e jogador”, afirmou.

Depois de uma etapa menos sucedida, Kenedy decidiu regressar a Portugal. Estava por conta própria, sem empresário, e decidido a começar do zero. Por sua iniciativa, na época passada, foi bater à porta do Olímpico do Montijo. Contudo, os problemas financeiros enfrentados pelo emblema da Associação de Futebol de Setúbal obrigaram o jovem guineense a procurar um novo destino. Seguiu-se o Sertanense, “um clube com objectivos melhores”, referiu. Mas, a época acabou mais cedo por força da pandemia da Covid-19 e para todos os jogadores do Campeonato de Portugal foi grande a incerteza em relação ao futuro.

 

Em Mirandela, Kenedy agarrou a oportunidade de mostrar talento

A sorte de Kenedy mudou esta temporada. Com a ajuda do seu novo empresário, Cissé, rumou a Mirandela para jogar no São Sebastião. “O Cissé é alguém a quem tenho muito que agradecer, pois acredita em mim e está sempre disponível para me ajudar. Ele acredita que ainda posso chegar a outros patamares e viu que o clube ideal para isso é o S.C. Mirandela, onde tenho espaço para evoluir”.

E é na equipa da cidade do Tua que Kenedy está a mostrar o melhor que sabe fazer, marcar golos. Apesar de não haver público nas bancadas os adeptos já se renderam ao jogador e à sua veia goleadora.

Na formação alvinegra encontrou a segurança e a motivação necessária para realizar uma grande época. Kenedy destaca o apoio fundamental do presidente, Carlos Correia, do técnico, Rui Eduardo Borges, e do capitão, Nuno Corunha.

“O presidente é uma pessoa que tem uma visão e conhecimento do que é o futebol é como interagir com os jogadores. Quanto ao mister é uma pessoa jovem, mas que já tem as suas ideias bem claras e delineadas. Impõe responsabilidade e está sempre disponível para apoiar e em relação a mim fez-me ver que se quiser chegar a outro patamar tenho de trabalhar duro. Depois há o nosso capitão que apesar de ter a idade que tem continua a dar tudo nos treinos nos jogos e passa-nos a sua experiência que é muito importante”.

O Mirandela conta com um plantel bastante jovem, com uma média de idade de 22 anos, mas isso “não é um problema”, garantiu o jogador. “O facto de ser uma equipa jovem para mim é uma motivação. Somos jovens mas com objectivos bem claros”.

Os mirandelenses têm como objectivo ficar entre os cinco primeiros classificados, lugares que dão acesso à subida à 3ª Liga, a nova prova da Federação Portuguesa de Futebol que vai surgir na próxima temporada.

O Mirandela tem mostrado ser um forte candidato a entrar no futuro terceiro escalão do futebol português e Kenedy quer continuar a contribuir com golos. “O objectivo pessoal é fazer um máximo de golos possível, ajudar a equipa a conquistar os objectivos”.

Kenedy define-se como um jogador de área que gosta de “jogar de costas e de frente para a baliza e que abre espaços para os colegas finalizarem”. A referência do guineense é o inglês Harry Kane, avançado do Tottenham.

 

Jornalista: 
Susana Madureira