Ter, 17/08/2021 - 11:08
Foi pautado por uma verdadeira troca de acusações o debate em Miranda do Douro, promovido pela Rádio Brigantia e pelo Jornal Nordeste, entre dois dos quatro candidatos que se apresentam à presidência daquela câmara municipal, Helena Barril, como independente, contando com o apoio do PSD/ CDS-PP, e Júlio Meirinhos, pelo PS.
As outras duas candidatas, Nazaré Fernandes Baptista, pelo Chega, e Maria da Glória Jesus, pela CDU, não estiveram presentes no debate, permitindo que os candidatos aproveitassem a noite para, mutuamente, atirarem acusações um ao outro.
Começando por “reprovar veementemente” o que diz ser a “campanha de intoxicação” e o “vomitar de ódio”, Júlio Meirinhos disse condenar os ataques de que tem sido alvo, através de perfis falsos de Facebook, criados por gente que integra a lista de Helena Barril. A candidata independente, que se viu atacada, respondeu apenas que a “postura de vítima” ficava mal ao adversário, descartando também qualquer envolvência nesses perfis.
Júlio Meirinhos, tendo já sido eleito presidente daquela câmara aos 23 anos, agora, com 66, diz ter aceitado ser candidato por ser a “primeiríssima e única escolha” para o concelho e que conhece bem os “corredores do poder”. Satisfeito com a equipa que o acompanha, o candidato disse ainda que se sente preparado para os grandes desafios que aí vêm e que “isto não dá para amadorismos”. Ofendida, Helena Barril lembrou-o que aos 23 anos, quando foi eleito, também não seria assim tão “experiente” e que o que a move é “fazer algo diferente do que tem sido feito até aqui”, não se sentindo nem “amedrontada” nem “limitada”, já que há um “fim de ciclo” que se “impõe”.
Ensino superior de volta a Miranda
Uma das bandeiras que os dois candidatos têm em comum é o regresso do ensino superior ao concelho transfronteiriço que, noutros tempos, tanta dinâmica ali imprimiu.
Olhando para o facto de o concelho, nos últimos dez anos, ter perdido cerca de dez mil pessoas, o candidato do PS acredita que é desta forma que a gente voltará a Miranda. Assim, Júlio Meirinhos avançou que há perto de um mês, juntamente com a equipa que o acompanha, reuniu com o reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que lhe garantiu que o ensino de volta, “com orgulho” a Miranda, com dois cursos, um na área da saúde e outro na do turismo, e com os primeiros mestrados em plataformas digitais.
Helena Barril também tem pretensões de que a retoma do ensino superior seja para breve, mas não acredita que seja nos moldes que Meirinhos anuncia. “Penso que o regresso do ensino superior por via da UTAD será muito difícil, para não dizer impossível”, assumiu. Confrontada com o “está a chamar mentiroso ao reitor da UTAD?”, por parte do candidato do PS, a independente esclareceu que não e avançou que a lista que encabeça já iniciou contactos com algumas universidades privadas. “Estamos a negociar e, mesmo virados para a universidade de Salamanca, a avaliar a possibilidade de criar aqui algum curso”, esclareceu, dizendo ainda que, para já, “não há nada em concreto”.
Barragens servem de pretexto para mais discórdia
Outra das questões que gerou alguma troca de acusações foi a das barragens e o movimento que se criou para defender os interesses dos mirandeses. Helena Barril, assumindo- -se como independente, mas lembrando que conta com o apoio do PSD, louvou o “trabalho” dos laranjas no que toca à luta do que se entende que a Miranda é devido. “Temos esperança que a situação possa evoluir num sentido positivo, que se deve à pressão que o PSD tem feito”, assinalou a candidata, deixando assente, ainda assim, que esta “é uma questão de todos, não é do PSD nem do PS”. Júlio Meirinhos mostrou- -se pouco agradado com as palavras da candidata e, ainda que à semelhança desta, considere que os benefícios fiscais devem ser devolvidos à terra, lamentou que Helena Barril se aproveitasse do Movimento Cultural da Terra de Miranda para “partidarizá- -lo”. “Deixemos de, uma vez por todas, a partidarização mesquinha sobre este mesmo tema”, disse.
IC5 é uma prioridade para ambos
Outra das matérias em que os candidatos estão de acordo, olhando-a como prioridade para o concelho, é fazer chegar o IC5, que parou em Duas Igrejas, a Espanha.
Helena Barril começou por considerar que é ao PS que se deve o facto de o traçado não estar terminado, pois tem estado na governação mas “não tem demonstrado interesse por esta matéria”.
A candidata, que assume que se forem executivo farão “toda a pressão que seja possível para que o IC5 seja concluído”, diz que “não tem havido vontade política para que isso se concretize, o que é triste”. Júlio Meirinhos não gostou, novamente, das palavras da adversária e rematou desde logo que, para independente, Helena Barril “gosta muito da análise partidária”.
Assumindo que o término da estrada também é um dos objectivos que apresenta, Júlio Meirinhos disse ainda que se deve à “teimosia” de um Primeiro-Ministro socialista a existência de tal traçado.
Meirinhos promete novo matadouro A revitalização da agricultura também esteve em debate entre os dois candidatos.
Helena Barril avançou que, caso seja eleita, irá manter toda a ligação com as associações de criadores que “têm um peso enorme”. “Temos também em perspetiva criar um mecanismo de regadio no concelho que acho que faria toda a diferença”, esclareceu, dizendo ainda que se prevê tornar o concelho “apelativo” à fixação de jovens que se queiram dedicar a este sector.
Júlio Meirinhos também quer o sector a mexer de outra forma, com mais pujança. Assim, segundo disse, uma das promessas que a candidatura traz é a construção de um novo matadouro, que se há-de erguer em Sendim. “Apesar do grande investimento que esta câmara fez para manter, com dignidade, o matadouro de Miranda, não se consegue suportar mais esta infraestrutura, que tem décadas. É necessário construir um novo. Já temos terreno, são dois hectares adquiridos pela câmara em Sendim”, esclareceu o socialista.
Mirandês poderá precisar de outra gente a defendê-lo
A revitalização da língua mirandesa, a segunda oficial em Portugal, tão identitária daquele território, também esteve em análise. Helena Barril disse considerar que os riscos de desaparecimento que o mirandês corre se devem ao despovoamento, mas também assumiu que “a associação que a defende tem de ser menos elitista do que tem sido até aqui” e que “tem de abarcar outras pessoas” já que “há muitas dedicadas à língua e têm de ser valorizadas”.
O candidato do PS não gostou, de novo, do discurso de Helena Barril. Respondeu logo, dizendo que lhe tinha ficado “muitíssimo bem” que apontasse a importância que este teve para se chegar onde já se chegou com o mirandês. Além disso, Júlio Meirinhos, apenas quis salientar que “não temos de andar a perder tempo” porque “todos os que estão na associação têm feito um trabalho fantástico, de intervenções e publicações, de congressos, entre outros”.