“É necessário haver mudanças por parte de quem tutela o desporto para a escalada ser reconhecida”

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Ter, 09/06/2020 - 23:03


Os escaladores Ana Marisa Correia, Nelson Cunha e Gustavo Cunha partilharam as suas experiências na escalada no seminário online dos alunos de Desporto do Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

Há cada vez mais praticantes de escalada em Portugal, apesar de ainda haver um longo percurso a fazer para o desenvolvimento e promoção da mesma. Ainda assim, no nosso país há campeões nacionais e dois deles participaram esta segunda-feira no “Seminário de Escalada” online dos alunos do 3º ano da Licenciatura de Desporto do IPB, da unidade curricular de Planeamento de Desportos de Natureza.

Ana Marisa Correia conta com 22 anos na escalada, uma modalidade em que se iniciou em 1998. A escaladora representou a Selecção Nacional e sagrou-se campeã nacional de escalada em bloco três vezes. Actualmente a participação feminina na modalidade já tem um certo peso, mas no final dos anos 90 Ana Marisa Correia foi praticamente pioneira. “Quando eu comecei eram muito poucas tanto em rocha ou a competir. Começaram a aparecer mais escaladoras quando passou a ser um desporto escolar. Actualmente há muitas mais raparigas do que na minha altura. É bom ver essa evolução”, afirmou.  

Subir paredes e trepar rochas pode parecer fácil, mas na verdade é algo que exige muita habilidade e uma grande domínio por parte de quem pratica. A formação é, por isso, fundamental de forma a evitar acidentes. “Na escalada é importante ter formação e saber o que se está a fazer, mesmo apanhando um susto, consegue-se controlar o que está a acontecer. Para quem quer começar é fundamental ter formação. É um desporto de risco e quando escalamos os nossos actos influenciam este risco”, explico Ana Marisa Correia.

A modalidade está em expansão, mas faltam apoios financeiros. O diferendo entre a Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada e a Federação de Campismo e Montanhismo tem prejudicado o desenvolvimento deste desporto na opinião da escaladora. “Existem duas federações, a de campismo que há muito tem a tutela e os apoios do Estado e a de escalada, da qual fiz parte no início, não tem apoios do estado. Mas, é a de Escalada que competições e leva os miúdos lá fora a competir. É necessário haver mudanças por parte de quem tutela o desporto para a escalada ser reconhecida”.

Apesar da escassez de apoios os escaladores nacionais conseguem deixar a sua marca na modalidade. Outro exemplo é o jovem Gustavo Cunha, que no seminário foi representado pelo pai, Nelson Cunha, também escalador. Gustavo é natural de Tondela, tem 15 anos, começou a escalar com quatro e aos 14 anos foi o único português a representar a Selecção Nacional, na Áustria, em 2019.

Já o pai, Nelson Cunha, é um veterano na modalidade, conta com 25 anos, e partilhou a experiência de subir ao Monte Branco, a mais alta montanha dos Alpes e da Europa Ocidental, com 40 anos.  “O Monte Branco foi a realização de um sonho. Se tivermos as condições perfeitas acaba por não ser uma montanha difícil se tudo correr bem. Foi desafiante. Depois há duas paredes extraordinárias, que gosto de escalar, em Espanha e nos Picos da Europa”, contou.  

A escalada pode ser uma actividade desportiva ou de lazer e já é uma modalidade olímpica.