“É tradicional que o que potencia o desenvolvimento fique no litoral, no interior logo se verá”

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Ter, 22/09/2020 - 13:00


Adão Silva tem 62 anos e é deputado do PSD pelo círculo de Bragança há cerca de 20 anos. Já foi secretário de Estado da Saúde, presidente da Assembleia Municipal de Bragança e vereador de Macedo de Cavaleiros, de onde é natural. É professor efectivo de Português/Francês no agrupamento de escolas Emídio Garcia, em Bragança. Foi agora eleito líder do grupo parlamentar do PSD com 81% dos votos.

Duas décadas depois é líder dos deputados do Partido Social Democrata. Como encara esta responsabilidade?

Obviamente é uma grande responsabilidade. Antes de mais é uma responsabilidade conduzir adequadamente aquilo que é o trabalho do grupo parlamentar, em profunda articulação com o resto da direcção e com os demais deputados e, por outro lado, é uma honra muito grande. É verdade que já podia ter sido antes presidente do grupo parlamentar, já surgiram pelo menos duas oportunidades no passado. Sempre representou o distrito de Bragança.

Mas agora, enquanto líder parlamentar, há possibilidade de intervir pela região e concretizar algumas reivindicações? A região vai finalmente ser beneficiada?

As pessoas querem saber isso, as pessoas têm o sentido imensamente prático das coisas e isso é bom, mas deixe- -me fazer duas clarificações. A primeira é que sou acima de tudo um deputado de todo o país e de toda a nação e em segundo lugar é preciso não confundir as competências do governo e do parlamento. É evidente que do que se está aqui a falar é da possibilidade de, nestas funções, eu puxar um pouco mais pelo círculo eleitoral de onde venho, Bragança e os brigantinos têm-me dado o privilégio de ser deputado. Eu dir- -lhe-ei que sim, que nós podemos fazer várias coisas no âmbito do parlamento que não sendo presidente do grupo parlamentar, ou até vice-presidente, não seria tão fácil. Vou dar-lhe um exemplo: há uns meses foi anunciado que a EDP ia vender as barragens de Miranda do Douro, Picote, Bemposta, Foz do Sabor e no Tua, portanto barragens sobretudo do distrito de Bragança. É evidente que a deputada Isabel Lopes, também eleita por Bragança, e eu decidimos fazer um projecto de resolução, que sendo um instrumento legislativo, é um instrumento que recomenda coisas ao Governo. E o que nós recomendávamos é que há uma enorme injustiça em relação às populações do distrito de Bragança, porque vieram aqui empresas exaurir uma grande riqueza que nós temos, que é a água, que produz hidroeletricidade, que vai espalhada por todo o lado, que dá lucros fabulosos, que estão nos bolsos de portugueses, isso não é mau, mas que também estão nos bolsos de chineses, de franceses, alemães e por aí. Nós recomendamos ao governo que, nesta matéria, em concreto se dê a justa retribuição às populações do distrito de Bragança. E nós conseguimos fazer aprovar este projecto de resolução, que se converteu numa recomendação ao governo, publicado em Diário da República. O deputado do PS, Jorge Gomes, esteve contra este projecto e o PS votou contra. Só que nós, através de contactos laterais, gerámos uma maioria, com o Bloco, o PCP e o CDS. Aquilo é uma recomendação ao Governo, ele pode olhar para o lado, mas também pode dizer “sim senhor está aqui uma recomendação, vamos segui-la”. A questão é, como é que isto foi agendado para ser discutido na Assembleia da República? É aqui que eu posso fazer a diferença. Fazer com que certos projectos, iniciativas legislativas sejam mais rapidamente agendados em plenário, porque eu estou exactamente no lugar onde se decide esta matéria, através da chamada conferência de líderes.

Podem então chegar à AR outros temas por ser líder do grupo parlamentar?

Claro que sim, mas também tem que ser feito um sopesamento para que não haja esta lógica muito localista, em que o presidente do grupo parlamentar do PSD se preocupa com o distrito de Bragança e do resto não quer saber. Mas há uma matéria que é muito transversal ao país, sobretudo às regiões, tem a ver com a rede 5G. Vai ser um instrumento de desenvolvimento fantástico. As regiões que a tiverem vão em frente, as que não tiverem vão ficar para trás. O que é tradicional neste país é que o que é inovador, o que potencia o desenvolvimento, fique logo em Lisboa, no Porto, no litoral e o interior logo se verá. A diferença do tempo é que é crítica, porque traz desenvolvimento num lado e atraso no outro. Os atrasos vêm sempre para o interior. Não estou apenas a olhar para o distrito de Bragança, mas estamos a olhar para todo o interior. Portanto, há um conjunto de preocupações que se tornam mais vivas e que eu acalento muito mais, quando estou neste lugar e tenho outras ligações ao interior do país. Tal como quando fui secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde, a minha preocupação foi grande e, por isso, é que hoje o distrito de Bragança beneficia de centros de saúdes novos, que mesmo outros distritos do litoral não têm.

Jornalista: 
Ângela Pais