Em busca da Universidade

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Ter, 14/06/2005 - 14:48


É o rosto do Instituto Politécnico de Bragança, mas também já coordenou o Parque Natural de Montesinho. Confira a entrevista com Dionísio Gonçalves, um homem que não desiste de lutar pela criação duma Universidade em Bragança.

Jornal Nordeste (JN) – A sua vida profissional está intimamente ligada ao Instituto Politécnico de Bragança, mas durante alguns anos coordenou o Parque Natural de Montesinho. Fale-nos desse período.
Dionísio Gonçalves (DG) – Em 1978 fui convidado para colaborar no arranque do PNM. Agarrei a oportunidade e comecei a passar horas e horas a falar com as populações e a entusiasma-las para, de facto, colaborarem na criação de um parque que é uma reserva da biosfera impressionante.
O Parque foi criado na perspectiva de manter a paisagem humanizada e de funcionar como um sistema de educação ambiental ao ar livre. Foi por isso que nos batemos, sempre, pela construção duma sede, onde o visitante entra, contacta com todos os ecossistemas e sai, já elucidado, à procura das diversas zonas do Parque.
Por outro lado, o PNM é um centro privilegiado de investigação, fruto da acção da Escola Superior Agrária do IPB e de outras universidades.

JN – A tão ansiada ligação à autovia das Rias Baixas continua a ser um sonho. Que mal teremos feito para sermos tão esquecidos pelo poder central?
DG – As acessibilidades, de facto, são o grande problema da região. Há algumas questões que estão ultrapassadas, pelo menos politicamente. O anterior Governo decidiu transformar o IP4 em auto-estrada, e ainda bem, porque os espanhóis, dentro de dois ou três anos, deverão ter a auto-estrada em Quintanilha.
Quanto à ligação à Rias Baixas, é necessário frisar que a passagem da A4 em Bragança e a autovia das Rias Baixas, conhecida por A52, ficarão separadas por pouco mais de 30 quilómetros, pelo que se afigura necessária uma ligação ao Portelo, pelo menos melhor do que a actual. São 15 ou 16 quilómetros para cada país e é importante ligar estes dois eixos. Acresce que estão a começar as obras do TGV na zona da Sanábria, o que vem reforçar, ainda mais, a importância da ligação de Bragança à A52.
Temos de tirar partido da nossa nova centralidade e isso só é possível com o prolongamento da A4 até Quintanilha e com a construção do IP2, que nos ligará à A25, que está a nascer à custa da duplicação do IP5.
Às vezes vêem-se camiões TIR a passar na estrada do Portelo e a seguir por Calabor até à A52. Eles sabem que isto é um eixo importante, mas precisamos duma nova ligação porque não se pode desenvolver uma região com uma estrada com tantas curvas. Os governos estão cientes disto, mas falta fazer a obra.

JN – Continua a defender a Universidade de Bragança?
DG – Quando se criou a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), primeiro como Instituto Politécnico e depois como Instituto Universitário, havia a ideia das universidades regionais e temáticas. É por isso que alguns políticos dizem que Trás-os-Montes e Alto Douro tem uma Universidade e um Instituto Politécnico, e que não há necessidade de criar mais universidades.
Mas, o certo é que o IPB tem feito um percurso universitário, numa altura em que a diferença entre Politécnico e Universidade está a esbater-se. Cada vez faz menos sentido diferenciar o Politécnico de Bragança, que tem 19 anos, duma Universidade, principalmente das novas Universidades, que têm 30 e poucos anos.
Por outro lado, a harmonização das carreiras académicas que está em curso vai trazer vantagens ao IPB. Estamos a ultrapassar os 90 doutores e somos, de facto, o Politécnico mais ambicioso do País, pelo que o reconhecimento universitário é decisivo para continuarmos a atrair alunos. E, não é possível atrair alunos para uma das zonas mais isoladas do País se tivermos uma instituição que estatutariamente esteja diminuída.
Além disso, o IPB precisa do estatuto universitário para reforçar a cooperação com as universidades do outro lado da fronteira, com quem já estamos a colaborar em diversos projectos de investigação e queremos desenvolver programas de doutoramento.
Recordo que só o nosso Centro de Investigação de Montanha, que é único do País, tem 31 doutores a fazer investigação com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Continuaremos, por isso, na procura incessante da Universidade, porque é vital para ancorar este projecto. Se assim não for, tenho muitas dúvidas quanto às possibilidades de ancorar um projecto desta dimensão.

JN – Então o que falta ao IPB para ser Universidade?
DG – Neste momento o IPB tem as condições científicas de base para ser uma instituição universitária. Esperamos, agora, dar um passo de gigante com a harmonização das carreiras académicas, pela qual me tenho batido. Por isso, só falta vontade política, e mais nada!

JN – A Universidade Politécnica pode ser um bom caminho?
DG – O nome é o que menos importa. Fundamental é ter o mesmo estatuto para cooperar ainda mais com outras universidades europeias, para ter as mesmas oportunidades e para haver igualdade entre instituições. Neste momento temos um programa Erasmus muito intenso, inclusive com Universidades como a de Florença, em Itália, porque no espaço europeu já somos uma instituição universitária e com a implementação do processo de Bolonha ainda seremos mais.

JN – Qual a importância da Escola Superior de Saúde para o distrito de Bragança?
DG – Tivemos a sorte de ter a Escola de Enfermagem transformada em Escola Superior de Saúde, onde os cursos têm tido grande adesão. Estamos a fazer obras de adaptação no edifício da antiga Escola de Enfermagem, que já tem mais de 30 anos, e vamos candidatar o projecto de um novo edifício, que queremos fazer em frente ao Hospital de Bragança. Esta aposta na área da Saúde é duma importância estratégica para assegurar a coesão nacional, pois os cuidados de saúde contribuem para assegurar a atractividade da região. Para já estão a funcionar seis cursos e perspectiva-se a abertura duma licenciatura em Educação Ambiental.

Entrevista de Marcolino Cepeda, Rui Mouta e Mara Cepeda