Esqueletos do tempo da Guerra do Mirandum trazidos à luz do dia

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Ter, 27/10/2020 - 11:26


Sete indivíduos, três crianças e quatro adultos, todos do sexo masculino, foram exumados em Miranda do Douro, junto ao castelo.

A descoberta aconteceu no decorrer de uma intervenção de requalificação e recuperação da antiga rua situada naquele local. A empreitada foi projectada pela câmara municipal, que pretende ali criar um espaço para fruição pública. Segundo avançou António Pereira, o sócio-gerente da empresa de arqueologia responsável pelos trabalhos, os esqueletos encontrados deverão ser de pessoas que ali morreram quando, em Maio de 1762, a população tentava resistir às investidas das tropas espanholas, no decurso da Guerra dos Sete Anos. A explosão de um paiol, durante um bombardeamento, provocou 400 mortos, levando à rendição da praça, que nesse dia seria ocupada pelo exército espanhol. O episódio deu origem à Guerra do Mirandum, nome por que ficou conhecida a participação de Portugal na Guerra dos Sete Anos, que se desenrolou de 1756 a 1763. “Pela forma como estavam enterrados, sobrepostos e sem organização, e pelos materiais a que estavam associados, podem corresponder à Guerra do Mirandum, que ainda está muito presente na memória dos mirandeses”, explicou António Pereira. A intervenção arqueológica relativa à recuperação da antiga Rua do Castelo começou com sondagens arqueológicas de diagnóstico e acompanhamento, realizados durante os meses de Junho de 2019 e Outubro de 2020. Os trabalhos arqueológicos permitiram confirmar que em toda aquela área há vestígios de ocupação desde época medieval, que se estendem até à ocupação actual do espaço, conservando vestígios de ocupação relacionados com a fase de construção da muralha, o casario medieval, mas também de outras estruturas murárias ou arruamentos, como é o caso do caminho de acesso ao castelo, vulgarmente designado como Rua do Castelo, e que atravessa toda a área intervencionada. Apesar de tudo, sublinhou ainda António Pereira, a descoberta não é uma surpresa. “Em centros históricos estamos habituados a que isto aconteça, não com este tipo de estruturas. Mas, quando partimos para a intervenção de sondagens de diagnóstico, em Junho do ano passado, já tínhamos ideia de que iríamos apanhar algumas estruturas e algumas delas relevantes”, assinalou António Pereira, explicando que os trabalhos prévios servem para perceber o que se pode, porventura, encontrar, de forma a prevenir o impacto da empreitada nos vestígios arqueológicos em presença. A Guerra do Mirandum também ficou conhecida com a Guerra Fantástica ou Guerra do Pacto de Família. A participação de Portugal na Guerra dos Sete Anos estendeu-se de Maio a Novembro de 1762, iniciando-se quando um efectivo de cerca de 42 mil homens invadiu Portugal pela fronteira de Trás-os- -Montes, conquistando Miranda, Bragança e Chaves.

Jornalista: 
Carina Alves