Falta de mão-de-obra e normas de segurança face à Covid-19 preocupam produtores de castanha

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Ter, 13/10/2020 - 12:40


A primeira castanha já começa a cair e surgem as preocupações dos produtores.

Para alguns, a pandemia pode vir a prejudicar o sector. Prevê-se que, este ano, a haja bastante quantidade e boa qualidade. Mas o que está a preocupar os agricultores é a falta de mão-de-obra, um problema que já se tem vindo a arrastar nas últimas campanhas, juntam-se as normas de segurança de combate à Covid-19 que devem ser tidas em conta na apanha. Os aglomerados de pessoas não são permitidos e há também o receio de aceitar trabalhadores de outras partes do país. “Têm-nos questionado como é que se deve proceder ao ajuntamento das pessoas que estão apanhar as castanhas, como é que podem realizar o transporte das pessoas para os soutos, devido às contingências que há do número de ocupantes por viatura, e também se as pessoas devem estar de máscara”, apontou o gerente da Cooperativa Soutos Os Cavaleiros, de Macedo de Cavaleiros. André Vaz disse ainda que outra das preocupações passa pelo preço da castanha. Cerca de 80% da castanha de Trás-os-Montes é exportada. Este ano esta percentagem é uma incerteza para alguns. “Temos visto noutros produtos agrícolas que tem havido uma quebra do preço, muitas vezes justificada pela falta de liquidez da população para a aquisição destes produtos. A castanha apesar de ser um produto basilar é também considerada de luxo e, por isso, há uma incerteza de como andará o preço da castanha durante este ano”, referiu. Quanto ao escoamento do produto, este não é um problema. “Do que é a nossa rede de clientes não vejo que haja qualquer problema de escoamento do produto. Poderá haver uma ligeira diferença na tipologia dos clientes. Não será fácil a população mundial ter liquidez suficiente para se dar ao luxo de comprar castanha e assadores como fariam antigamente. De qualquer maneira, a indústria tem, neste momento, capacidade e necessidade de absorver o resto da produção de castanha”, disse André Vaz. O responsável pela cooperativa admitiu ainda que, este ano, muita castanha será vendida em Portugal, contra- riamente às campanhas anteriores, devido à crise económica que os países atravessam, nomeadamente Itália, um dos maiores compradores. Também Abel Pereira, presidente da ARBOREA, Associação Agro-Florestal e Ambiental da Terra Fria, referiu que a apanha da castanha é uma preocupação, assim como o escoamento. “Essa preocupação existe, por um lado escoar o produto, por outro lado a apanha. Há mão-de-obra que vem de fora e há preocupações que se acentuam com a pandemia, o que faz que esta campanha seja imprevisível”. Por outro lado, considera que os preços, apesar de ainda ser cedo para falar deles, “não andam fora de um ano normal”. “O mercado da castanha é muito imprevisível”, disse, apontando que o facto de a apanha da castanha ser feita consoante a queda do fruto também contribui para a incerteza. Mas há quem vá mais longe e aponte que a pandemia não é um dilema tão grande como os problemas que o sector da castanha já enfrenta. O presidente do Agrupamento de Produtores de Castanha de Transbaceiro defende que “a comercialização da castanha na região de Bragança é tudo menos transparente”. Carlos Fernandes aponta que o preço da castanha é cartelizado e não é definido consoante a oferta e a procura. “São os produtores os grandes prejudicados e o Estado, porque continua a haver compra e venda de castanhas fora do circuito legal, nem todos os produtores estão colectados e todos os operadores do mercado da castanha compram também sem factura”, disse, concluindo que a este problema se junta a falta de mão-de-obra para a apanha da castanha.

Jornalista: 
Ângela Pais