Giovani tinha um único ferimento à data da autópsia

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Qua, 10/03/2021 - 15:35


O tribunal de Bragança já acabou de ouvir os sete homens que estão acusados do homicídio qualificado de Luís Giovani Rodrigues, o jovem cabo-verdiano que terá sido espancando à saída de um bar, tendo morrido dez dias depois, a 31 de Dezembro de 2019

Os arguidos voltaram a tribunal nos dias 2 e 3 deste mês, mas o que agitou os advogados foi esta última sessão, já que foram ouvidos tanto o perito, que elaborou o relatório da autópsia a Giovani, como o inspector da Polícia Judiciária, responsável pela investigação. Segundos as declarações do perito, a causa da morte foi uma lesão crânio-encefálica, que pode ter sido causada pelas agressões ou por uma pancada contra um objecto estático. O médico legista acrescentou ainda que esta era a única lesão existente nessa data. De referir que a autópsia só foi realizada 13 dias após o confronto. O perito admitiu também que poderiam existir outras mas que já estariam saradas e não serem visíveis na autópsia. O advogado de defesa de Tiago Fernandes, Américo Pereira, não entende como é que sete pessoas bateram noutra, caída no chão, indefesa, segundo relata a acusação, e o relatório da autópsia apenas descreva um único ferimento na vítima, mais concretamente na cabeça. “Estava com muita esperança que o perito esclarecesse algumas dúvidas. Como é que sete pessoas a bater numa só lhe provocaram um único ferimento, ferimento esse que levou à morte do jovem?”, questionou. Para Américo Pereira “perdeu-se oportunidade de esclarecer como é que foi feito aquele ferimento, se resultou de uma queda ou se foi agredido”. Já para Gil Balsemão, advogado de Bruno Fará, não foram grande novidade as palavras deste perito. “Acho que não serviu para clarificar nada, mas não estava à espera que esclarecesse mais do que aquilo que vem no próprio relatório, que é inconclusivo”, assinalou. No que toca às declarações do inspector da PJ, Américo Pereira lamentou que a primeira hipótese tenha sido a que foi levada ao Ministério Público, salvaguardando que as imagens das câmaras de vigilância, que há pela Avenida Sá Carneiro, podiam ter sido recolhidas. “O inspector diz que foram descartadas todas as possibilidades depois de inquirir as testemunhas”, explicou. Também Gil Balsemão lamentou que a actuação não tenha sido diferente, lembrando que, ainda em fase de inquérito, os próprios ofendidos disseram que Giovani teria caído numas escadas. “A PJ tinha conhecimento de uma queda ou de um tropeção e em nenhum dos autos isto foi reconstituído. Parece-me, no mínimo, estranho pois até iria ajudar na descoberta da verdade”, clarificou o advogado. Na sessão de julgamento de terça-feira da semana passada, após se escutar o último arguido a prestar declarações, Tiago Afonso, o constituinte de Gil Balsemão pediu, novamente, para falar. O arguido foi o primeiro a prestar declarações, na primeira sessão de julgamento, mas agora quis ser outra vez ouvido. “O que ele disse foi que quando chegou teve uma abordagem directa com um dos ofendidos, o Valdo, e que depois disso a cena de pancadaria terá acabado. Da parte de alguns arguidos foi dito que o primeiro episódio de violência teria acabado e houve um segundo que teria sido começado com o meu constituinte, quando este chegou com o pau. A cena de pancadaria é um acto continuo e quando ele chegou já estava tudo a decorrer”, explicou o advogado sobre as palavras de Bruno Fará, já que todos os arguidos mencionaram ter existido um primeiro momento de ofensas e um segundo, despoletado por este homem. Nesta última sessão falou ainda o primeiro dos ofendidos. Gailson Mendes descreveu o desentendimento no bar, dizendo que o seu amigo Valdo abordou duas raparigas, mas os namorados ficaram ofendidos. Disse ainda que ao saírem do bar os homens os esperavam na rua, onde os agrediram. Quando se puseram em fuga, Giovani terá ficado para trás e quando se deram conta estava deitado no chão a ser agredido por cinco homens, a murro e pontapé, usando cintos e um pau. Disse ainda que o jovem não caiu nas escadas, apenas tropeçou. Nos dias 15, 22 e 23 deste mês acontecem as próximas sessões.

Jornalista: 
Carina Alves