Imobiliárias registam quebras acentuadas desde o primeiro confinamento

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Ter, 16/03/2021 - 14:57


As imobiliárias são um dos negócios com autorização para reabrir esta segunda-feira, na primeira fase de desconfinamento.

Receber clientes e mostrar os imóveis é fundamental para o sector, que foi tão afectado pela crise provocada pela pandemia, mas a recuperação pode não ser imediata. Eugénia Baptista trabalha há 24 anos no ramo imobiliário e diz que a pandemia afectou bastante o negócio e não só na altura de confinamento, em que tiveram de estar encerrados e não conseguiam fazer visitas aos imóveis. “Tínhamos alguns negócios praticamente fechados, que tivemos que anular porque as pessoas ficaram com medo de perder os empregos, outras pessoas são proprietárias de restaurantes, cafés e outras pequenas empresas que, como tiveram de fechar, tiveram medo de avançar nalguns negócios. Têm quebras muito grandes, não vão arriscar na compra seja do que for”, afirma. Encerrados desde meados de Janeiro, o cenário agravou-se ainda mais, porque “em confinamento os proprietários não querem pessoas em casa” e é difícil finalizar negócios sem mostrar o imóvel. Diz que “tem sido duro”, porque as despesas de renda, luz, IVA e com trabalhadores mantêm-se. “A quebra é enorme, a nível de vendas não fizemos particamente nenhuma, de Janeiro para cá fizemos duas ou três vendas, o que não dá para aguentar uma casa destas”, afirma a empresária que refere que é o dinheiro do arrendamento de imóveis que vai ajudando a pagar as despesas. 2020 não foi um ano bom, “mas foi mais ou menos razoável”, com uma quebra de cerca de 60%, o que “dava para ir andando”, no entanto, “2021 está a ser péssimo”. Desde a criação do negócio, conseguiu acumular um fundo de maneio que agora lhe vale. “Mas não podemos gastar o pouco que ganhamos nestes anos todos e a seguir fechar portas”, afirma. O sector estava a recuperar bem, depois da última crise, e a construção estava a aumentar criando mais oferta. Agora esta nova crise vai exigir muito esforço por parte das empresas. “Temos de trabalhar se calhar o dobro para ganhar um terço, mas não podemos baixar os braços. A recuperação vai ser longa. Até 2023 vai ser para recuperar e irmos andando, sem ganhar grande dinheiro”, antevê. Vivaldo Martins também tem uma imobiliária em Bragança e diz que nos últimos tempos na parte de compras e vendas houve um decréscimo bastante grande, de cerca de 50%. “Muitas pessoas que hoje procuram um imóvel põe logo o preço”, impondo um limite ao que podem gastar, referiu, o que acredita que estar relacionado com a perda de rendimentos das pessoas e com a dificuldade em conseguir crédito. Mas também o encerramento da loja de mediação imobiliária “afasta as pessoas, estão mais retraídas”, atrasando a decisão devido à incerteza. “As pessoas estão com o pé atrás, se hão-de investir já ou aguardar até uma futura melhoria da pandemia, devido à situação instável” a nível económico. Desde Janeiro tem-se restringido a enviar fotos dos imóveis aos interessados. “Tenho alguns agendamentos para um dia melhor, estão naquela indecisão”, afirma. Quanto à recuperação admite que “é difícil de prever”, mas acredita que só quando a situação epidemiológica estabilizar e se não houver grande perda de empregos e de rendimentos o sector vai retomar. “Com toda a certeza, só no próximo ano teremos mais normalidade na parte imobiliária”, afirma. Para Eduardo Malhão, com uma empresa no ramo imobiliário, a pandemia está a provocar “uma espécie de tempestade perfeita”, porque não é uma crise apenas sanitária, mas transversal, com um grande impacto também ao nível económico e social. Perante a conjuntura negativa, com desemprego e quebra de rendimentos, prevê que o “sector imobiliário em Bragança vai enfrentar também as dificuldades”. No que diz respeito às vendas de habitação nova e usada na imobiliária, ente 2019 e 2020, já se sentiram quebras, mas acredita que “é possível que durante este ano a quebra seja maior”, porque “os efeitos das crises demoram algum tempo a incorporar-se no mercado”. Por isso, “o pior pode estar ainda para vir nos próximos dois ou três anos” O empresário acredita que desta crise podem “emergir algumas oportunidades e novos nichos de mercado”, mas julga que “iremos atravessar um menor fulgor durante dois ou três anos e que depois iremos retomar as condições que existiam antes da pandemia”, mas para isso será necessário criar “condições ideais para que a economia regresse a terrenos positivos”.

Novas tecnologias

Como não eram permitidas visitas presenciais aos imóveis, a empresa utiliza as novas tecnologias para fazer visitas virtuais, enviar plantas e fotografias dos imóveis. “Claro que isso não substitui o atendimento personalizado, mas sempre é melhor do que nada”, afirma. Alfredo Germano tem uma imobiliária em Mirandela e visto que o confinamento imposto em Março de 2020 tirou as pessoas da rua e as afastou do negócio decidiu apostar nas visitas virtuais. “Tive que me adaptar, procurei na net onde podia encontrar câmaras 360 e programas para criar visitas guiadas on-line, tentei de alguma forma contornar as dificuldades. Foi complicado para toda a gente, mas ao criar as condições para as pessoas fazerem as vistas virtuais ajudou-me bastante e logo em Maio do ano passado, quando reabrimos, comecei a vender alguns imóveis que tinha promovido nas visitas virtuais, no Verão correu mais ou menos e agora voltou a arrefecer, estamos quase parados”, conta. Teve de fazer algum esforço de investimento em câmaras, programas informáticos e num novo site, mas também obteve retorno. “Mantive-me aberto e no mercado”, destaca, considerando que este foi um investimento que continuará a usar no futuro. Os compradores nem sempre têm necessidade de visitar presencialmente o imóvel para avançar com o negócio. “Em relação às primeiras visitas virtuais, fiz vendas em que os comparadores viram a casa no dia da escritura”, conta. Através das visitas virtuais “as pessoas conseguiram ver bem a casa, tiram as dúvidas e depois as pessoas confiam em nós, porque não estamos no mercado há dois dias”, diz o empresário. Considera que todas “as dificuldades criam oportunidades”. Aberto há 22 anos, diz ter tentado “tirar partido” das crises que atravessou para se reinventar. “Não ficámos de braços cruzados, mas não é fácil, porque os bancos estão a condicionar os créditos e muitas pessoas deixaram de ter rendimentos”, afirmou. Frederico Teixeira também tem uma imobiliária em Mirandela, bem como em Vila Flor e Torre de Moncorvo. Para além de gestão dos arrendamentos, no confinamento teve os escritórios fechados e não podia mostrar imóveis, mas tentou fazer visitas à distância com chamadas de vídeo. “Apesar de que não me parece de todo que esta visitas resultem” e diz que “houve também, desde o início do ano, uma baixa” na procura. “As pessoas querem ver presencialmente, qualquer um de nós para comprar seja o que for tem de o ver. As visitas à distância podem despertar algum interesse, mas deixam sempre coisas pendentes, uma visita física”, sublinhou. Entre o primeiro trimestre de 2020 e o de 2021 teve uma quebra de 70%. Quanto ao futuro, vai ser marcado pela incerteza. “Acho que o pós-pandemia é um pau de dois bicos, na área imobiliária. Quando há desconfinamento anima o mercado imobiliário, mas não sabemos muito bem o que irá acontecer com muitas famílias”, sublinha.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro