Mais vítimas de violência doméstica apoiadas durante a pandemia

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Qua, 10/03/2021 - 15:38


No último ano, o número de vítimas de violência doméstica atendidas no distrito aumentou

Apesar de os novos casos até terem diminuído, há, no entanto, mais pessoas apoiadas pelo Núcleo de Apoio à Vítima (NAV) do distrito de Bragança e os processos são mais graves e prolongados. No que diz respeito aos novos atendimentos desta estrutura, passaram de 107 em 2019 para 78 no ano passado. Mas o número de vítimas atendidas nos 12 concelhos cresceu de 154 para 274. “Comparativamente com 2019, o número de vítimas atendidas aumentou, mas diminuiu o número de casos novos. Os processos de apoio iniciados em 2019 tiveram um atraso na prestação de todos os apoios, nas diligências efectuadas e nas respostas dadas, porque o efeito da pandemia veio aumentar a lista de espera e criar um atraso nas respostas das instituições. Portanto, muitas vítimas transitaram de 2019 para 2020”, explicou a responsável do NAV, integrado na Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Bragança (ASMAB), Teresa Fernandes. O atraso na denúncia e na saída, que acontece “já no limite”, leva a que se “acumulem muitas outras necessidades”, o que tem reflexo nestes dados, porque inflaciona o número e o tipo de apoios prestados, já que “devido às problemáticas acumuladas aumentaram os apoios jurídicos e sociais”. Segundo dados da PSP, em 2020 foram apresentadas 72 queixas por violência doméstica na área de abrangência do comando de Bragança, ao passo que em 2019 tinham sido 102 as queixas. Teresa Fernandes considera que o facto de o número de denúncias ter diminuído não é necessariamente um indicador positivo, mas está antes relacionado com as novas circunstâncias ligadas à pandemia. “Muitas vítimas que estão confinadas nas suas casas com os agressores tardam muito em apresentar queixa, ou por medo ou por não terem oportunidade para poder sair livremente das suas casas, denunciam menos e mais tarde”, explica, sendo estes alguns dos motivos para haver um decréscimo de casos novos. “O contexto de pandemia veio trazer a nu muitas situações ocultadas, mas veio também ocultar muitas outras ou adiar a denúncia”, sublinhou. Segundo a psicóloga, o confinamento e as alterações sociais, como perda de rendimentos, agravaram esta problemática. “De repente obrigámos as pessoas a ficarem em casa, a assumir responsabilidades que até então eram atribuídas à escola, houve quebra de rendimentos, ou seja, as circunstâncias externas ao casal cumulativamente com aquilo que internamente já vinha a acontecer, fez com que as situações se agravassem”, referiu. A própria pandemia, com as mudanças na realidade social, profissional e institucional que provocou, “veio trazer um medo acrescido às vítimas”, esclarece ainda Teresa Fernandes, relacionado com as alterações que “necessariamente têm de ocorrer para romper com relações abusivas, como o divórcio, a mudança de cidade e a regulação das responsabilidades parentais”, fazendo com que as pessoas resistam e adiem a denúncia, por receio e desconhecimento da orgânica dos serviços. As mulheres continuam a ser as principais vítimas de violência doméstica, sendo mais de 84% dos novos casos no distrito, uma percentagem que aumentou, ao passo que a violência contra idosos, que vinha a crescer nos últimos anos, estabilizou em 2020. No ano passado, no distrito, houve pelo menos uma vítima mortal às mãos do companheiro.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro