Morcegos mostram-se eficazes no combate a mais de cem pragas no Vale do Tua

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Qua, 21/07/2021 - 16:28


Resultados da monitorização do impacto destes animais em campos agrícolas são promissores

Os morcegos podem dar um contributo importante para o controlo de pragas nas culturas de olival, vinha e sobreiros. Foi esta a conclusão de um projecto de estudo implementado em 2017 no Parque Natural Regional do Vale do Tua e conduzido por uma equipa, que incluiu o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto. Há quatro anos foram colocadas 100 caixas abrigos em postes de vários terrenos agrícolas nos concelhos de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Murça e Vila Flor. Os resultados são animadores já que os morcegos ajudam a eliminar pragas e permitem a redução do uso de pesticidas. Na apresentação dos resultados do projecto, que aconteceu dia 16, em Vila Flor, Vanessa Mata, investigadora do CIBIO, explicou que foi possível apurar que foram predados 116 insectos, nomeadamente 14 pragas agrícolas e florestais importantes e 102 insectos de praga menores, entre elas a traça-da- -oliveira, a traça-da-uva, a lagarta-do-sobreiro, o bichado da castanha, a lagarta do tomate ou a processionária do pinheiro. “Encontrámos várias espécies de insectos com potencial grave ou muito grave para a agricultura, tanto temos pragas que são escaravelhos, como borboletas ou cigarrinhas. E o facto de os morcegos consumirem um pouco de tudo também acaba por ser benéfico, porque conseguem desempenhar o seu papel em todo o lado”, esclareceu. O estudo mostrou a eficácia da colocação de abrigos de morcegos junto das culturas e no controlo das pragas, o que pode traduzir-se em redução de custos em agro-químicos e diminuição de perdas na produção. “Se eles estão a comer os insectos e têm capacidade de diminuir as suas populações significa que o agricultor não tem de colocar tanto pesticida ou pode colocar só mais tarde. Ou seja, é um efeito bola de neve, em que temos os morcegos a comer os insectos, temos menos insectos e assim menos necessidades de agro-químicos”, sublinha. Os morcegos ingerem até metade do seu peso de insectos por noite, o que, tudo somado, acaba por ser um número elevado de pragas que são eliminadas, evitando- -se assim a sua reprodução e multiplicação. “2,5 gramas de insectos pode não parecer muito, mas se tentarmos pesar mosquitos vemos que isso corresponde a várias dezenas ou centenas e os morcegos depois são milhares, por isso o potencial impacto é bastante grande”, refere a investigadora. As caixas-abrigo, que permitem a proximidade dos morcegos aos campos agrícolas, tiveram uma taxa de ocupação elevada, o que surpreendeu os investigadores. No primeiro ano a taxa de ocupação era de 50%, mas chegou aos 90%. A centena de caixas-abrigo para morcegos abrangeram 42 propriedades do Vale do Tua. A implementação do projecto no terreno e colocação deste material contou com o apoio das Associações Aflodouronorte e Silvidouro. Paulo Xavier, desta última associação, considera que este tipo de projectos apresenta vários benefícios para os agricultores, nos vários tipos de culturas abrangidas. “Os estudos indicam que na vinha tivemos um controlo mais acentuado pela cigarrinha verde e no olival pelo algodão da oliveira, no sobreiro ainda está a ser avaliado melhor, mas há indicação que também consegue controlar uma praga existente no sobreiro”, sublinhou. O contributo das associações foi importante para convencer os agricultores a participar no estudo. “Tínhamos conhecimento técnico da mais-valia que representava para os agricultores e demos a conhecer o projecto a quem poderia envolver-se directamente e as pessoas, sabendo das vantagens que tinham, acabaram por aderir, principalmente porque perceberam que se conseguia conciliar a questão económica com a ambiental”, afirmou. O projecto, com duração de três anos, teve um financiamento de 250 mil euros, através do Fundo Ambiental. Caso haja mais financiamento, o objectivo é continuar com o projecto, garante o director do Parque Natural Regional do Vale do Tua, Artur Cascarejo. “Os agricultores hoje o que nos pedem é a continuação do projecto, mais caixas-abrigo, porque constataram na prática aquilo que na teoria julgávamos que iria acontecer, mas que não tínhamos ainda a certeza”, afirmou. Um dos objectivos pode passar por quantificar qual o efeito da utilização de morcegos nas culturas agrícolas. No caso dos Estados Unidos da América, estima-se que o sector poupe entre 3,7 e 53 mil milhões de dólares no controlo de pragas em áreas como a produção de algodão. O impacto do projecto foi destacado também pelo presidente do município de Vila Flor, Fernando Barros, que afirmou que “quando há conhecimento e formas de ajudarmos a economia, nomeadamente o sector primário, que é fundamental, devemos estar atentos”. O autarca diz que “ficou satisfeito por ouvir alguns proprietários, na primeira pessoa, dizerem que havia vinhas que antes de ser colocado o abrigo tinham doenças e problemas, e que depois de ser colocado o abrigo verificaram uma notória melhoria da qualidade da folha da videira e do próprio fruto”. As conclusões da investigação vão ser publicadas em livro, para que o método possa ser aplicado em diferentes territórios.

Jornalista: 
Olga Telo Cordeiro